Mamãe me deixa na porta do colégio. Seguro sua saia cinza com força.
- Não me deixa! - Meus olhos estão ardendo e lágrimas brotam.
Ela se abaixa e limpa meus olhos, então sorrir.
- Nunca lhe deixarei, Kate. Eu sei que estamos passando por uma fase difícil, mas vamos passar por ela juntas. E sempre estarei aqui com você. Ok?
Faz duas semanas que papai e Felipe foram embora, e pela primeira vez vejo a mamãe sorrir. Fico feliz por ela está tentando, e mais feliz por não está sozinha. Sorrio e enxugo meus olhos:
- Ok!
- Me prometa que fará de tudo para que hoje seja um ótimo dia, e que nada a faça chorar.
- Prometo.
- Aqui! - Ela levanta o dedo mindinho. - Jure com o dedinho.
Levanto o dedo e aperto o dela. Mamãe me abraça e beija minha testa.
- Está pronta?
- Estou.
- Então vá. E boa sorte.
Me viro e passo pela porta. Olho para trás e ela está acenando. Obrigada, mãe.
Acordo em um sofá verde, estou tonta mas tento reconhecer o lugar. Uma sala com paredes de tijolos, uma mesa com computador no canto, e ao meu lado só a luz alaranjada de um abajur.
A porta abre, e vejo Abel passar por ela.
- Kate, você acordou. Ainda bem! - Seu rosto parece aliviado.
- Por quando tempo dormi? - Tento me levantar, mas me sinto tonta.
- Calma. Acho melhor você permanecer sentada. Você dormiu por 50 minutos. Os mais longos da minha vida.
Abel senta ao meu lado, e me passa um copo d'água.
- Beba, vai ajudar.
Pego o copo de suas mãos e dou um gole.
- Onde estamos?
- Na sala da administração, do café.
- Ah.
- Me deixaram trazer você para cá. Aparentemente você teve um ataque de nervos e desmaiou.
Fico o encarando.
- Obrigada. - Digo, e percebo seu olhar suavizar.
- Kate... você me deixou assustado. Eu não sabia o que fazer, sorte minha que os outros funcionários estavam lá.
- Desculpe-me. - Sinto um constrangimento pela cena.
- Você tá melhor?
Seu olhar e sua voz são tão doces que me sinto bem. Nunca o vi tão atencioso.
- Estou sim. Graças a você. - Sinto que toda aquela minha raiva sumiu, e meu coração mais leve.
- Desculpe por ter segurando você daquele jeito, eu só não queria que você fosse embora. Não queria perder você mais uma vez.
- Tudo bem... - Não quero entrar nesse assunto de nevo, então corto logo. - Agora preciso ir, Abel.
Me levando e tento ajeitar meu cabelo.
- Muito obrigada, mesmo.
- Vamos voltar a nos ver? - Sua pergunta está tão carregada de esperanças, que enche meu coração com algum sentimento estranho. Abel.
- Claro.
Sorrio e vou embora, deixando-o com aquele olhar arregalado que não tira de cima de mim.
*
Chego em casa e vou tomar banho. Quando estou enxugando meu cabelo, resolvo dá uma olhada nas mensagem do celular. Algumas ligações perdidas de Theo, outras do meu pai; então meu coração para, uma ligação do Felipe. O que ele quer me ligando de novo?
Largo o celular de volta em cima da mesa, e quase que instantaneamente ele começa a vibrar. Pai.
Resolvo atender.
- Alô?
- Filha, onde você estava? Estou te ligando à horas.
- Estive ocupada. - Desembucha. - Mas qual é o assunto?
- Bem, falei com seu irmão...
Fico séria. Vamos voltar a esse assunto de novo.
- Hum.
- E bem... parece que sua mãe não está bem de saúde.
- O que? - Meu coração gela. Tenho um mal pressentimento. - Como assim? Aconteceu alguma coisa?
- Kate, acho melhor você ligar pro seu irmão. Ele sabe de tudo.
- Não! Você começou, agora termine. O que ela tem?
Ele fica em silêncio por um tempo, sinto uma angustia.
- Pai?
- Sua mãe está com câncer.
Escuto tudo e depois não escuto mais nada. Há um zumbido em meus ouvidos. Perco o chão, e meu corpo desaba. Minha mãe com câncer, não pode ser verdade. Como? Eu estava sempre com ela. Como isso foi acontecer? Na minha cabeça vem a imagem dela, dizendo que nunca me deixaria. Então meus pulmões começam a arder e as lágrimas começam a descer. Escuto Paul no celular.
- Filha?!
- Desde quando ela tá com câncer? - Minha voz sai em um sussurro.
- Parece que antes de você viajar.
Aquilo não fazia o menor sentido. Eu estava lá com ela, como não saberia se minha mãe estava doente?! Minha cabeça girava, e as lágrimas saiam continuamente.
Dentro de mim existia um vazio, como uma sala empoeirada, mas também tinha uma luz que fazia com que eu ainda sentisse; agora essa luz está se apagando.