segunda-feira, 25 de abril de 2016

1996 - Capítulo 3

    No meio da tarde, já em casa, resolvo ir para cozinha cozinhar alguns cookies. Estou sozinha, enquanto mamãe e papai estão fora, trabalhando. A campainha toca, e corro para abrir a porta. 
- Oie! - É o Felipe. Está sorridente. 
- Oi. O que foi? - Pergunto. 
- Tá afim de andar de bicicleta? Tava pensando da gente andar até a mata e então podíamos fazer uma trilha. 
Felipe sempre adorou fazer caminhadas no meio do mato, ele já descobriu alguns lagos perdidos, e sempre que encontra alguma coisa nova fica todo entusiasmado como se fossem lugares mágicos. 
- Bem... - Sorrio sem graça. - Agora estou ocupada... estou com alguns cookies no forno, na verdade se eu não for agora olha-los vão queimar. 
- Então acho melhor você ir logo, não queremos comer cookies duros. - E sorrir mais uma vez. 
Fico hipnotizada pelo seu sorriso tão largo. 
- Mari? 
- Ah! - Fico sem graça de novo. - Pare de sorrir tanto...
Coço a cabeça e me viro para ir até a cozinha. Meu deus, já estou pegando a mania dele de sempre coçar a cabeça. 
- Porque não posso sorrir? - Ele faz uma cara séria. - Isso faz seu coração bater mais forte? 
E então ele sorrir mais uma vez, dessa vez ele está rindo com suas piadas que me fazem corar. 
- Até parece. Só não vejo motivo pra tanto sorriso. - Digo enquanto abro o forno. Huuum, esse cheirinho de cookies quentinho, posso até sentir meu estômago roncar. 
- Meu Deus, Mariana! Assim não tem como manter esse corpinho se toda vez você me enche com esses biscoitos!
- Bem, você não precisa comer se não quiser. - Debocho. 
- Nunca faria tamanha desfeita. - Diz enquanto tenta atacar o primeiro cookie. - Ai! 
- Você devia ao menos esperar esfriar. Desse jeito você não vai conseguir comer nada sem queimar os dedos. 
Ele da algumas mordidas e larga o biscoito em cima da mesa. 
- E então? 
- E então o que? 
- Vamos ou não fazer a trilha? 
Meu corpo preguiçoso implora para ficar em casa e quando estou quase negando, reparo em seu rosto alegre e esperançoso. Ai! Mas por que isso sempre me conquista?! 
- Tudo bem... - Digo derrotada. 
- Oba! - Felipe dá um sorriso de uma ponta a outra do rosto. 

                                                                      
                         

                                                                               ***

    Estou morta depois de ter que pedalar mais de sete quilômetros até chegar ao começo da trilha. Céus! Meu sedentarismo não permite que eu faça esse tipo de coisa. Esse Felipe, solto um olhar furioso para ele, por que ele ainda consegue me manipular desse jeito?! Me trazendo até aqui, quando eu podia está deitada comendo meus cookies. 
- Ei. - Felipe me olha com se estivesse pedindo desculpa. - Eu sei que você não gosta desse tipo de coisa, mas estou feliz por ter vindo. 
E então meu coração amolece e toda a raiva se vai. Lá vou eu de novo sendo comprada por algumas palavras bonitas que esse moço diz. 
Solto o ar, cansada. 
- Tudo bem. Me desculpe... - Digo. 
- Você vai gostar. Prometo! - Diz sorrindo. 
Pronto. Meu coração se derrete feito açúcar, e entro na trilha com ele sem mais sentir raiva. 

    Felipe anda na minha frente e eu tento acompanha-lo, mas toda vez que percebe que estou ficando para trás, ele para e me espera. Quando tenho que pular sob algum tronco ele me da a mão, enquanto fica falando sobre os tipos de plantas e árvores. 
- E essa é muito utilizada para fabricação de remédio. Ontem mesmo eu estava assistindo a um programa de médicos que só trabalhavam com remédios caseiros, que eles mesmo produziam com o que podiam tirar da natureza. Não é demais? - Diz empolgado. 
- É sim. - Digo enquanto tento desviar dos galhos no chão. - Você devia cursar medicina. Tem mais a ver com você do que engenharia, afinal você já fica metade do tempo assistindo programas médicos. 
Ele para e me encara. 
- Medicina? - Ele pensa e depois responde. - Não... acho que não tem nada a ver comigo. - Então continua caminhando. 
- Tá certo. Mas continuo a achar essa a melhor opção. 
    Continuamos andando por uns vinte minutos, e quando já não estou mais aguentando, ele para.
- Chegamos! 
Felipe para na minha frente com os braços na cintura. Passo por ele e meu olhos se arregalam. Na minha frente um belo jardim com centenas de margaridas pelo chão, várias árvores com flores penduradas, e um lago com pequenos pássaros que param para beber água ou se banhar. A luz do sol que passa pelas árvores brilha ao encontrar a água e tudo parece mais que vivo, parece mágico. Agora eu posso entender. Entendo como ele se sente quando está aqui, é como... é como... como me sentisse livre. 
- Mari? - Felipe vem até mim e me olha com cautela. - E então? - Ele encolhe os ombros. 
Meus olhos se enchem de lágrimas. 
- Você não gostou?! - Seu olhar parece preocupado agora. - Me desculpe, eu pensei que você pudesse gostar daqui... só quis mostrar a você o porquê que venho tanto aqui. Entendo que você não tenha gostado, você prefere ficar mais em casa...
- É... lindo. É perfeito, Felipe! - Pulo em sua direção e o abraço. O abraço porque não quero que ele me veja chorando. Felipe me aperta em seu braços e posso senti-lo cheirando meu cabelo. 
Esse lugar, ele preenche meu vazio. É tão puro que não consigo me conter. 


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