segunda-feira, 25 de abril de 2016

1996 - Capitulo 1: Primeiro Dia

   Definitivamente hoje será um dos melhores dias da minha vida. O primeiro dia do meu último ano na escola!
   Saio do carro, me despeço do meu pai e fecho a porta. Noto a quantidade de alunos concentrados na quadra, e o grande barulho das conversas, logo começo a me sentir ansiosa. Com minha eterna mochila amarela, já a uso faz uns cinco anos, ando até a multidão aglomerada na quadra à procura de encontrar alguém conhecido. Saio andando e não posso deixar de notar os novos rostos. - Quantos novatos. - penso comigo.
Avisto o professor Bruno de educação física, ele está no meio da quadra tentando organizar as filas por turma. O coitado com certeza não está conseguindo ter sucesso em sua tarefa. Solto uma risada baixinha.
Então, de repente, três crianças passar correndo por mim, me fazendo perder o equilíbrio e ir de encontro ao chão.
- Ai! - Digo, ao cair de bunda.
- Olha só quem está de volta! - Ouso uma voz atrás de mim, ainda no chão me viro para ver quem é e me deparo com tênis sujos de terra e em uma perna uma pulseira do reggae. Na hora reconheço quem é.
- Só podia ser você Felipe, para ver uma dama no chão e não ajuda-la. - Digo em tom de deboche.
Ele rir e enquanto se abaixa para me ajudar, diz: - Dama? hahaha! Grossa desse jeito, tá longe de ser uma dama.
Faço um bico chateada, mas logo desmancho quando vejo sua cara sorridente e começo a rir também.    Felipe é alto e loiro, mas sua pele é de um tom bronzeado de quem vive na praia, tem os braços bem definidos, ele repetiu de ano quando estava no segundo ano do ensino médio, então desdo ano passado ele e eu passamos a estudar juntos. Aos poucos fomos nos conhecendo melhor, ele me chamou para ser seu par de dança na festa junina quando percebeu que eu estava sozinha, porque sempre estive sozinha. Então descobrimos com o tempo que também morávamos no mesmo condomínio, apesar das casas se posicionarem em locais distantes, desde então Felipe passou a ir de vez em quando para a minha varanda, onde ele tinha que escalar uma árvore para chegar, e assim ficávamos horas conversando ou estudando.
 Desdo dia que repetiu e teve seu orgulho ferido por ver seu irmão gêmeo passando em sua frente, Felipe estuda para tirar apenas notas altas. O que me instiga  à tirar notas altas também, pelo meu forte senso de competição, estamos sempre competindo para tirar notas mais altas, e mesmo eu sempre conseguindo tirar notas mais altas que ele, Felipe nunca ficou irritado, apenas olha a nota e sorrir sozinho, como se sentisse orgulho de mim. Sempre me deixando intrigada.
Desde então, somos amigos, e toda vez que a nossa representante de classe faz o mapeamento da turma, pedimos para sentarmos juntos. Me sentindo bem estando com ele.
- Ei! Cabeça oca, pare de sonhar e venha logo para a fila, ou vai acabar ficando no fundo! - Felipe fala ao dar uma leve puxada em meu cabelo.
Sorrio e tento me apressar para acompanha-lo.

   Estou na fila feminina da turma 3° A, Felipe foi para a fila masculina e ficou um pouco distante de mim, agora para conseguir vê-lo tenho que esticar meu pescoço para trás e ficar na ponta do pé. Enquanto estou me esticando para tentar achar ele, vejo no final da fila Adriana, minha melhor amiga desdo dia em que cheguei nessa escola. Ela parece não me notar, permanecendo a olhar para o chão. Vez ou outra alguém chega para cumprimenta-la.
Adriana tem cabelo comprido e loiro, olhos verdes e tem um corpo esbelto de quem pratica yoga. Na maioria das vezes sua adesivos no rosto para cobrir os cortes que seu gato faz em seu rosto quando ela o agarra com toda força. Sempre foi muito popular na escola, por mais que nunca tenha medido esforços para conseguir isso, seu próprio carisma e empatia fazem dela uma pessoa querida por todos. Ela é a melhor amiga do Felipe, e moramos no mesmo condomínio. Sempre que chega o período do sarau, a diretora Margarida a convoca para participar com uma apresentação solo, que sempre é ela cantando alguma coisa. Adriana sempre teve uma bela voz, e mesmo sendo acanhada em seu dia-a-dia, na hora que é para subir no palco ela o faz com total destreza. Mais pontos que a fazem ser querida pelos alunos e professores. A garota mais desejada entre os garotos, mas nunca nota esse seu efeito. Ela é tão inteligente, e mesmo não sendo boa na matemática, isso não diminui sua imagem erudita. Eu sempre a admirei por ser tão autentica, às vezes me via tentando copiar seu jeito único, mas não me saia muito bem. Adriana nunca se importou por eu ser extremamente tímida e por não chamar atenção, ela sempre diz que sou muito mais importante que esses pequenos detalhes e que nunca conheceu alguém tão inteligente. Seu jeito verdadeiro faz com que eu consiga me desabrochar ao seu lado e me permite ser verdadeira também.
Saio caminhando para o final da fila e dou um pulinho na sua frente, sorridente.
- Adrih! - Solto um gritinho entusiasmada.
- Mari! - Assim que me vê, sorrir e me abraça.
- Que saudades meninas! - Sinto uma terceira pessoa nos abraçando, mas logo reconheço a voz.
- Julia! - Adriana e eu gritamos e nos juntamos para abraçar Julia juntas.
Julia é a única garota lésbica do nosso trio e com ela formamos o grupo perfeito. É a mais alta também, tem cabelos castanhos e no ombro. Ela foi a terceira a chegar, um ano depois de mim. No começo permaneceu perdida, mas logo depois Adriana conseguiu traze-la para nosso grupinho e a fez se sentir tão bem, que não demorou muito para Julia começar a se abrir sobre a questão da sua sexualidade. Ela tinha medo de não ser aceita pelas pessoas da sala, mas logo Adriana quebrou isso e mostrou que isso não era motivo para sentir medo. Com o tempo, Julia foi se soltando e agindo do jeito q sempre foi, a mais alegre e imperativa, com seu jeito meio machão adorava arrumar briga com os meninos, e sempre fazia de tudo para defender nosso trio.
- Meninas, esse será nosso último ano juntas, temos que aproveitar tudo! - Julia parece feliz.
- Finalmente é o último ano. - Diz Adriana. - Mas vou sentir falta disso aqui tudo.
Nesse momento me dou conta de que rezei tanto para terminar logo a escola, mas que ela fez parte de um importante momento da minha vida, e que na verdade, sou muito grata a tudo isso.
                      


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