quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tudo Começou Em Chicago: Cap 8 (parte 1) - Senhor Otimista

   Fico sem fala e meus olhos estão arregalados. Abel tem um irmão gêmeo? E ainda por cima seu irmão vai tocar na banda! Só pode ser brincadeira. Sindo meu coração parar, e começo a sentir falta de ar.
- Você é irmão gêmeo do Abel?! - Pergunto incrédula.
- Ou o Abel é meu irmão gêmeo. Para mim faz mais sentido. - Posso sentir seu sarcasmo.
- Ele nunca me contou sobre você.
- Poxa, acho que eu deveria me sentir ofendido. - Diz colocando a mão do peito. - Mas não me importo. O fato de não ter sido mencionado, não anula minha existência.
   Fico olhando para seu rosto, são muito parecidos, mas quando paro para analisar melhor percebo que seu cabelo é mais curto, mais espalhado e é azul (Abel não teria mudado o cabelo pra essa cor, não faz seu estilo). Ele tem uma barbinha por fazer, usa uma jaqueta preta, calça rasgada e um All Star azul. Lembra muito um astro do rock. Sem contar que suas sobrancelhas são mais grossas.
- Meu Deus! Você é mesmo irmão dele! - Ponho a mão tampando a boca.
- É o que parece... - Ele revirar os olhos.
- Theo será nosso guitarrista! - Paul coloca uma mão no ombro de Theo. - Arrumei essa banda pra gente, já que a minha está de férias. São todos estudantes, amantes da música. - Paul aponta com as mãos largas para todos que estão no palco. Só então percebo que estão me olhando, como se eu fosse uma maluca. - Como você, querida. - Paul se vira para a banda. - Galera, essa é a minha filha, Kate Green. Nossa função é ajuda-la a entrar na Juilliard.
Percebo que a garota da bateria me olha com cara de nojo, fico me sentido constrangida pela cena.
- Kate, essa é a sua banda! Theo na guitarra, Autumn na bateria, Peppe no baixo e Blake no teclado. Então, já que todos foram apresentados, vamos começar!. Kate pegue aquela guitarra. - Paul aponta para a guitarra azul encostada na parede. - Cada um pro seu lugar!
   Caminho ainda constrangida até o canto do palco, pego a guitarra e me dirijo ao centro. Sinto todos os olhares em mim. Estou tremendo, e a sensação de dormência não me deixa.
- Vamos tocar o que, Paul? - Autumn pergunta.
- Bem, para aquecer pensei em Mr. Brightside.
- The Killers! Show! - Blake vibra atrás do teclado.
- Sério?! Mas faz tempo que eu não toco assim, nem canto! - Digo ao perceber o quanto estou nervosa em tocar na frente de todos. - Essa música é difícil!
- Você consegue Kate. Pode apostar. - Paul me incentiva.
- Que ridículo... - Balbucio baixo, mas percebo que Theo escutou e esboça um sorriso quase imperceptível. Provavelmente rindo da minha cara.
- Não seja amadora garota! Cante logo! - Autumn fala por trás de mim. Posso sentir sua raiva, e com certeza essa garota não gosta de mim.
   Ando até o meio do palco, posiciono o microfone e ajeito a guitarra.
- Vamos lá! - Paul grita.
Autumn inicia na bateria, logo em seguida todos estão tocando. Limpo a garganta, e respiro fundo. É só cantar Kate, penso comigo, não tem pra quê ter medo:

"Eu estou saindo de minha gaiola
E estou indo muito bem
Devo ficar triste
Porque eu quero tudo isso
Isto começou com um beijo
Como isto foi terminar assim?
Foi apenas um beijo, foi apenas um beijo
Agora eu estou adormecendo
E ela está chamando um táxi
Enquanto ele está fumando
E ela está dando uma tragada
Agora eles vão para cama
E meu estômago está doendo
E está tudo em minha cabeça
Mas ela está tocando o peito dele
Agora, ele tira o vestido dela
Agora, me deixe ir

Eu apenas não posso olhar Isto está me matando
E tomando controle
Ciúme, jogando santos no oceano
Nadando por doentes canções de ninar
Afogando seus álibis
Mas é apenas o preço que eu pago
O destino está me chamando
Abro meus olhos ávidos
Porque eu sou Sr. otimista

Eu nunca
Eu nunca"

   Quando termino, estou segurando o microfone nas mãos, levantando-o para cima. Estou tão eufórica que não consigo respirar direito. Olho para frente e Paul está gritando de felicidade.
- É isso mesmo garota! Foi incrível! Posso sentir a energia. É disso que eu estava falando!
Abaixo o braço me sentindo constrangida, minhas bochechas pegam fogo. Olho de relance para o lado e Theo me lança um sorriso, o que me faz congelar, é o mesmo sorriso do Abel.

  ESTOU SOZINHA no ponto de ônibus. Mesmo Paul se oferecendo para me levar em casa, preferi ir sozinha, afinal não estamos tão bem assim. Não posso agir como se tudo estivesse bem, porque isso é tudo que não está.
   Theo aparece, e eu levo um susto. Ele se senta ao me lado e sorrir.
- Você cantou bem.
- Acho que sim...
- Qual é. Não se faça de boba.
Faço uma cara séria.
- Não tenha medo de mostrar seu talento. Isso é o mais importante. - Ele bate com seu ombro no meu.
-  Me desculpe pela forma que gritei lá dentro...
- Relaxa. Às vezes acontece.
- E eu não tenho medo... - Solto um suspiro cansado pela a boca. - é só que... cantar implica em muita coisa.
- Como assim? - Theo entorta a cabeça, e vê-lo assim me deixa vermelha. Ele só me lembra Abel. Abel, Abel, Abel. Esqueça ele! 
- Você não entenderia.
- Tente.
Fito seus olhos, são profundos e estão com toda a atenção voltada a mim. Mordo meu lábio.
- O Paul costumava ser um pai bem presente, sempre me ensina coisas novas, me incentivava a tocar e cantar. Mas um dia recebeu uma proposta de sua antiga banda... - Encaro a rua. Falar sobre tudo que já aconteceu me faz reviver aquele sentimento, o pior de todos, abandono. - Lembro dele discutindo com a mamãe, e me lembro de está chorando quando ele se foi. Ele foi embora sem me dizer nada.
- Nossa...
- Pois é. Depois disso eu nunca mais quis tocar novamente... Não conseguia, era muito doloroso.
- Eu entendo. A vida também não foi tão boa comigo. - Theo pressiona suas mão dentro do bolso.
- Sério? E o que você fez para seguir em frente.
Ele joga sua cabeça para trás e fica encarando o céu. Sua franja azul cai lindamente por cima dos seus olhos, e eu me sinto enfeitiçada.
- Esquecer, Kate... esquecer é o grande segredo.Você só tem que esquecer e seguir em frente... chega uma hora que não vale mais apena lembrar. E claro que a ferida vai continuar ali, existindo... você só não dá mais tanta atenção a ela. Isso faz a total diferença.
- Pra mim, você só está se enganando... só fingir que nada aconteceu não vai ajudar.
   Ele bufa.
- Foi o único jeito que encontrei.
- O que foi que aconteceu? - Me sinto curiosa.
- Não importa mais.
O que? Ele não vai me contar? Mesmo eu tendo cotado sobre mim. Fico com raiva, mas ao mesmo tempo não me sinto no direito de pedir mais informações. Mal o conheço.
- Tudo bem.
   O ônibus chega, me levanto e pego minha bolsa.
- Esse é o meu. Até amanhã.
- Até amanhã, Kate. - Ele sorri para mim, e sinto meu coração bater forte. Não posso me apaixonar por ele. Não posso.

                                                     

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