- Não um simples bar. É a caverna dos vikings, onde a alma de qualquer músico pode se soltar. - Theo sorri.
Todos correm para a bancado do bar, demonstrando muita intimidade com o local. Eles pedem bebidas que possuem nomes estranhos.
- Vocês sempre estão aqui? - Estou curiosa.
- É o nosso modo de diversão.
- Hum.
- Vamos! Quero apresentar você a um cara.
Andamos entre as pessoas que se movem constantemente pela passagem. O lugar é muito confortável, apesar do nome. As paredes são de pedra e o chão possui uma madeira velha meio acinzentada. São várias mesas espalhadas pelo salão, e mais adiante um pelo palco, com todos os instrumentos.
- São doações. - Ele me responde como se lesse meus pensamentos. - Muita gente gosta desse lugar, então de vez em quando, o bar recebe doações.
- Ah.
Theo me da a mão e continua andando. Paramos frente a bancada, nas parede tem várias pratilheiras, e atrás tem um cara grande com barba e bigode, ruivo. Seu cabelo está preso em uma trança. Apesar de seu jeito brusco, parece uma pessoa simpática, sempre sorrindo.
- E aí, Bas! - Theo cumprimenta o cara do bar.
- E aí garoto! Por onde andou? Faz algum tempo que não te vejo por essas bandas. - A voz dele é forte e durona. Ele continua enxugando alguns copos.
- Pois é, tinha alguns compromissos. - Theo me olha, e eu não entendo do que ele está falando.
- Ah! Entendi. Então temos um 386 aqui. - Bas está me encarando num tom engraçado.
- Essa é a Kate. Minha nova companheira brasileira. Vocalista da banda.
- Uau! Então é você que é filha do grande Paul! - Diz, esticando a mão para me cumprimentar.
- Prazer. - Aperto sua mão de volta.
- Vão tocar hoje?
Theo me encara, especulativo. Como se esperasse uma resposta.
- O que foi? - Franzo a testa.
- Tá afim de cantar?
- Agora?
- Isso.
- Aqui?
- Qual é o problema? - Ele ergue a sobrancelha.
- É que aqui tem muita gente. - sussurro.
Theo caminha até está bem próximo de mim. Segura meu rosto em suas mãos, e prendo a respiração.
- É só se você quiser. - Fala cariosamente.
- Acho que não estou bem para cantar... - Tiro meu olhar do dele.
- Então coloque isso para fora. Vai de fazer bem.
O encaro, e logo depois desisto. Inspiro profundamente.
- Ok. - Reviro os olhos, e ele ri.
- Isso garota! - Escudo Bas por trás de nós. Já tinha me esquecido dele, e me sinto constrangida.
Theo me guia até o palco, e com um simples olhar o resto da banda entende e sobe no palco. Cada um vai para seu lugar. Autumn na bateria, Blake no teclado, Peppe no baixo e Theo pega uma guitarra preta que estava encostada na parede. Me sento no piano que está no meio do palco, um lindo piano de cauda preta. Respiro o vai profundo que consigo, minha mão começa a coçar e sinto a garganta doer, meu coração acelera e minha vista escurece. Ah não! Conheço esses sintomas, depressão pós Paul.
Inspiro com toda força que tenho e solto o ar devagar. Fique calma, Kate. Penso.
- Tenha calma, Kate. Você consegue. - Theo sussurra no meu ouvido. Como ele consegue ler meus pensamentos? - Qual será a música.
Respiro mais uma vez.
- Vou começar e depois vocês me seguem.
Ele vira a cabeça de lado, como se estivessem tentando entender.
- Ok. - Theo volta para o lugar e passa o recado para o resto da banda. Todos ficam confusos com meu pedindo, mas não se manifestam.
Olho para minhas mãos. Engulo seco e respiro. Finalmente dou as primeiras notas:
Respiro novamente, puxo o ar com tanta força que sinto meus pulmões doerem. Posso sentir as lágrimas querendo sair. Estão reivindicando com todo fervor. E não consigo mais conte-las.
Termino e coloco minhas mãos no rosto, cobrindo-o. Então, choro. É tão profundo que penso que talvez nunca mais consiga parar.
Theo coloca a mão em meu ombro, se agacha e me abraça.
- Shiii. Calma. Vai ficar tudo bem. - Ele alisa meu cabelo. - Coloca tudo para fora, Kate.
E eu o obedeço. Coloco tudo para fora. E é muita coisa.
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