segunda-feira, 18 de maio de 2015

Tudo Começou Em Chicago: Capítulo 11 (parte 1) - E apesar de tudo, eu ainda sou humana.

   um bar! - Digo surpresa.
- Não um simples bar. É a caverna dos vikings, onde a alma de qualquer músico pode se soltar. - Theo sorri.
Todos correm para a bancado do bar, demonstrando muita intimidade com o local. Eles pedem bebidas que possuem nomes estranhos.
- Vocês sempre estão aqui? - Estou curiosa.
- É o nosso modo de diversão.
- Hum.
- Vamos! Quero apresentar você a um cara.
Andamos entre as pessoas que se movem constantemente pela passagem. O lugar é muito confortável, apesar do nome. As paredes são de pedra e o chão possui uma madeira velha meio acinzentada. São várias mesas espalhadas pelo salão, e mais adiante um pelo palco, com todos os instrumentos.
- São doações. - Ele me responde como se lesse meus pensamentos. - Muita gente gosta desse lugar, então de vez em quando, o bar recebe doações.
- Ah.
Theo me da a mão e continua andando. Paramos frente a bancada, nas parede tem várias pratilheiras, e atrás tem um cara grande com barba e bigode, ruivo. Seu cabelo está preso em uma trança. Apesar de seu jeito brusco, parece uma pessoa simpática, sempre sorrindo.
- E aí, Bas! - Theo cumprimenta o cara do bar.
- E aí garoto! Por onde andou? Faz algum tempo que não te vejo por essas bandas. - A voz dele é forte e durona. Ele continua enxugando alguns copos.
- Pois é, tinha alguns compromissos. - Theo me olha, e eu não entendo do que ele está falando.
- Ah! Entendi. Então temos um 386 aqui. - Bas está me encarando num tom engraçado.
- Essa é a Kate. Minha nova companheira brasileira. Vocalista da banda.
- Uau! Então é você que é filha do grande Paul! - Diz, esticando a mão para me cumprimentar.
- Prazer. - Aperto sua mão de volta.
- Vão tocar hoje?
Theo me encara, especulativo. Como se esperasse uma resposta.
- O que foi? - Franzo a testa.
- Tá afim de cantar?
- Agora?
- Isso.
- Aqui?
- Qual é o problema? - Ele ergue a sobrancelha.
- É que aqui tem muita gente. - sussurro.
Theo caminha até está bem próximo de mim. Segura meu rosto em suas mãos, e prendo a respiração.
- É só se você quiser. - Fala cariosamente.
- Acho que não estou bem para cantar... - Tiro meu olhar do dele.
- Então coloque isso para fora. Vai de fazer bem.
O encaro, e logo depois desisto. Inspiro profundamente.
- Ok. - Reviro os olhos, e ele ri.
- Isso garota! - Escudo Bas por trás de nós. Já tinha me esquecido dele, e me sinto constrangida.
 
   Theo me guia até o palco, e com um simples olhar o resto da banda entende e sobe no palco. Cada um vai para seu lugar. Autumn na bateria, Blake no teclado, Peppe no baixo e Theo pega uma guitarra preta que estava encostada na parede. Me sento no piano que está no meio do palco, um lindo piano de cauda preta. Respiro o vai profundo que consigo, minha mão começa a coçar e sinto a garganta doer, meu coração acelera e minha vista escurece. Ah não! Conheço esses sintomas, depressão pós Paul.
Inspiro com toda força que tenho e solto o ar devagar. Fique calma, Kate. Penso.
- Tenha calma, Kate. Você consegue. - Theo sussurra no meu ouvido. Como ele consegue ler meus pensamentos? - Qual será a música.
Respiro mais uma vez.
- Vou começar e depois vocês me seguem.
Ele vira a cabeça de lado, como se estivessem tentando entender.
- Ok. - Theo volta para o lugar e passa o recado para o resto da banda. Todos ficam confusos com meu pedindo, mas não se manifestam.
Olho para minhas mãos. Engulo seco e respiro. Finalmente dou as primeiras notas:
"Acordado como um animal
Dentes prontos para afundar
Minha mente está perdida numa visão sombria
Tentei escapar, mas me mantive afundando...

Debaixo da pele há um ser humano
Enterrado profundamente, há um ser humano
E apesar de tudo eu ainda sou humano
Mas eu acho que eu estou morrendo aqui...
Respiro novamente, puxo o ar com tanta força que sinto meus pulmões doerem. Posso sentir as lágrimas querendo sair. Estão reivindicando com todo fervor. E não consigo mais conte-las.
Acordar como um animal
Eu estou pronto para a cura
Minha mente está perdida com pesadelos de streaming
Acordando chutando e gritando!

Leve-me para fora deste lugar que eu estou
Tire-me deste caso xisto que eu estou

Debaixo da pele há um ser humano
Enterrado profundamente dentro há um ser humano
E apesar de tudo eu ainda sou humano

Eu acho que eu ainda sou humano
Eu acho que eu ainda sou humano
Eu acho que eu ainda sou humano

Debaixo da pele há um ser humano
Enterrado profundamente, há um ser humano
E apesar de tudo eu ainda sou humano
Mas eu acho que eu estou morrendo aqui..."
   Termino e coloco minhas mãos no rosto, cobrindo-o. Então, choro. É tão profundo que penso que talvez nunca mais consiga parar.
Theo coloca a mão em meu ombro, se agacha e me abraça.
- Shiii. Calma. Vai ficar tudo bem. - Ele alisa meu cabelo. - Coloca tudo para fora, Kate.
E eu o obedeço. Coloco tudo para fora. E é muita coisa.

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