segunda-feira, 18 de maio de 2015

Tudo Começou Em Chicago: Capítulo 10

   Entro no auditório as pressas, passo pelo sorriso caloroso que Theo me oferece, ignorando-o. Sigo uma linha reta até alcançar Paul, que está de costas, pendurado no celular. Mas minha fúria é maior e ignoro todos os modos.
- Paul, tenho que falar com você. - Digo, rispidamente. 
Ele levanta um dedo, pedindo um minuto. Logo a ligação atendida pelo meu irmão me vem na cabeça. Sinto um nó na garganta. Não posso esperar nem mais um segundo.
- Desligue essa merda de celular e me escute! - Agora estou gritando, e vejo Paul arregalar o olhar, perplexo, e todos da banda voltam a atenção para mim. Ah! Então agora consegui a atenção dele. 
- Bob, depois falo com você. - Diz, desligando o celular e me olhando com cautela. - Está tudo bem, filha? 
E é ai que explodo. 
- Bem?! Bem é a única coisa que não estou! E pare de me chamar de filha. - Rosno. - Que porra o Felipe está fazendo no Brasil?! Desde quando ele agora passa temporadas com minha mãe?! Ele deveria está com você! Por que diabos vocês resolveram reaparecer na minha vida?! Que merda é essa?! 
Paul está me encarando com o rosto pálido. Seus olhos me cercão com um certo tipo de medo. Ele suspira e passa a mão pelo cabelo. 
- Como você soube? 
- Liguei para mamãe e ele atendeu. - Digo, entre os dentes. 
- Entendo. Que descuido da parte dele. - E percebo um tom irritado saindo de sua voz. - Kate, ele estava com saudades da mãe, quando soube que você estava morando em Chicago, viu a ocasião perfeita para tentar se reaproximar. 
Começo a rir ironicamente. 
- Se reaproximar?! Vocês realmente não tem noção das coisas. Acham é simples assim? Que é só voltar e estará tudo bem? 
- Kate, as pessoas erram... eu errei e o Felipe também. Ele era só um garoto quando... 
- Quando o que? Quando nos deixou? Vocês abandonaram a mim e a minha mãe, sem nenhuma consideração! Que tipo de pai faz isso?! - Estou em surto. Minha garganta dói cada vez mais, e meu estômago embrulha. 
- Pensei que já tínhamos acertado nossos problemas. 
- Pensou errado, Paul. Isso nunca vai acontecer! Sabe por quê? Porque vocês são uns filha da mãe, que não merecem perdão! 
Ele encara o chão, colocando as duas mãos no bolso do casaco. Respiro fundo, tentando assimilar tudo. Começo a lembrar de tudo o que aconteceu logo após a ida dele, do meu pai, de como me senti impotente, machucada, abandonada. 
- Depois que você foi embora... - Minha voz está rouca, e tudo dentro de mim dói. -  ...mamãe teve que passar a me buscar na escola. Enquanto eu a esperava, ficava sentada sozinha vendo todas aquelas garotas abraçando seus pais... Todos presentes. E eu ficava me perguntando o que eu tinha feito de errado para você me deixar. - Não consigo mais conter as lágrimas, e elas começam a fluir como um rio. Um rio furioso. - Logo depois o Felipe também foi embora, deixando a mamãe em cacos... Eu a via chorando todas as noites, e não podia fazer nada. Você tem noção do que foi esses anos da minha vida?! Você transformou tudo em caos.
Dou uma pausa. Sinto meu peito arder de tanta dor. Colocar isso para fora é mais doloroso do que pensei. 
- Fiquei três anos me sentindo como se estivesse morrendo, perdida na minha própria mente sombria. Agora você espera que eu o perdoe e tudo volte a ser como já foi um dia? 
- Kate... 
- Não. - O interrompo bruscamente. - Paul, quero que diga ao Felipe que não quero vê-lo. Diga que não vou perdoa-lo. Que ele não se atreva a vim me procurar... ele deixou de ser meu irmão à oito anos. 
- É isso que realmente quer, Kate? - Seu olhar parece sem vida. 
- Quero que você suma, também. Desapareça com essa banda, tudo isso é ridículo. Eu estava bem, pela primeira vez em oito anos, tudo estava fluindo. Então trate de sumir. 
- O quê? - Seu olhar é perplexo. - Kate, isso é para o seu futuro. 
- Me esqueça, Paul. Sei que para você é fácil. 
Me viro e saio andando as pressas, a única coisa que consigo ver é o olhar do Theo sem vida. Ele me encara sem reação. Passo pela porta e vou embora. 

                                                                          ***

   ESQUECER. TUDO ISSO É MUITO DIFÍCIL para mim, ter que lidar com todos esses sentimentos de novo. Me pergunto como está sendo para minha mãe, ter que se reaproximar do Felipe. Por que isso parece estar sendo mais difícil só para mim? Por que eles não podem ver o quão louco tudo isso é? 
- Então, você resolveu ir embora. 
Levo um susto ao ver Theo e o resto da banda, parados ao meu lado no ponto de ônibus. 
- O quê vocês estão fazendo aqui? 
- Você é idiota? - Autumn me encara. 
Faço uma cara de quem não está entendo. Onde ela quer chegar?
- Não pode ir embora. Você acha que estamos aqui só pra te ajudar, né? Mas está enganada. 
- Como assim? 
Ela coloca sua bolsa no chão e inspira profundamente. 
- Seu pai nos ofereceu uma oportunidade no meio da música, caso nos formássemos uma banda para ajudar você a reencontrar o caminha da música.
- Você está brincando, né? 
- Não, docinho. Sei que é difícil de aceitar, mas aparentemente, o mundo não gira ao seu redor. - Ela zomba. 
- Kate... - Theo toma a frente e me encara. - precisamos disso. Cada um de nós vinhemos de caminhos difíceis. Não temos nenhuma chance lá fora. Seu pai nos ofereceu uma chance de ouro. 
- E se você for embora... - Blake fala por trás de Autumn, e percebo que nunca tinha escutado sua voz. - estaremos ferrados. 
Permaneço parada, encaro todos os olhos que estão me olhando esperançosamente. Fecho os olhos e solto o ar que está preso dentro de mim. 
- Só que eu não posso fazer isso agora. Não posso voltar lá dentro, olhar para cara do Paul e pedir a banda de volta. 
- Tudo bem, nós entendemos isso. - Theo sorrir. - Você precisa de tempo, e vamos esperar.
- Não, Theo. Pode ser que eu nunca volte. - Tento ser o mais realista. 
- Você vai voltar, Kate. Sei que voltará. 
- Como pode ter tanta certeza? 
- Porque a música, faz parte de quem você é. Não tem como fugir disso. 
Nos encaramos por um momento, e a forma que me olhar é de tirar o fôlego.
- Não é por nada, aprecio o momento romântico que está rolando entre vocês, mas precisamos ir. - Diz Autumn, me fazendo corar. 
- Ir para onde? - Pergunto, franzindo a testa. 
Theo sorrir, um sorriso largo. 
- Levar você para cantar. Uma intervenção 386. 
- Intervenção 386? 
- Cantar para espantar os males. 
- Mas não em qualquer lugar. - Fala Blake, animado. - Tem que ser na Caverna dos Vikings.  
- Onde fica isso? 
- Tenha calma, pequeno gafanhoto. Você verá. - Diz Theo, passando braço sobre meus ombros. 

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