domingo, 17 de maio de 2015

Tudo Começou Em Chicago: Capítulo 9

   Theo continua deitado na grama com os olhos fechados, tento olhar para ele de relance. Ele é lindo, de uma forma diferente do Abel, mais sincero, existe uma bolha de tranquilidade em sua volta. Ao lado dele sinto como se nada pudesse me afetar. Chega ser embriagante. 
   O vento sopra seu cabelo azul divinamente, me deixando com falta de ar. 
- Você tem irmãos, Kate? - Levo um susto com sua pergunta tão repentina, mas ele continua com olhos fechados. 
- Tenho um irmão. - Digo, contida. 
- Quantos anos ele tem?
Ai, só falta ele querer entrar em detalhes.  
- Vinte e três.
- Ah. 
- Faz muito tempo que não o vejo... - Minha garganta doí. Rezo para que ele perceba o fim do papo.  
   Ele se vira para mim, mantem o cotovelo apoiado no chão e a mão segurando sua cabeça. 
- Qual é o nome dele? - Seus olhos me analisam insensivamente. 
- Felipe... Eu costumava chama-lo de Lipe... - Encaro as nuvens por um momento. - Mas isso não importa mais. 
- E onde ele está? No Brasil? 
- Não. Saiu de casa à muito tempo. - Dou de ombros. - Uma semana depois do meu pai ir embora... Às vezes ele manda cartas pra minha mãe, cartas com fotos de todos os lugares que visita. Mas eu nunca quis ler e nunca deixava mamãe falar sobre ele comigo. A última coisa que eu soube, foi que ele estava com o Paul na França...
Theo balança a cabeça. 
- Entendo. Então ele também abandonou você e sua mãe, igual o seu pai. Que coisa mais de merda para se fazer. - Diz ele, coçando o queixo. 
- Pois é... - Me viro e encaro seus olhos. - Uma coisa de merda.
   Nos encaramos por um tempo. Tento decifrar seu olhar, mas é difícil. Parece manter um segredo a sete chaves.
- Qual é o seu nome?
- O que?!
- Theo é só um apelido, imagino...
- Ah. Theodore. Theodore Collins.
- Família Collins? - Ergo uma sobrancelha.
- Exatamente. A família mais complicada da America! - Diz, achando graça.
Ficamos rindo um da cara do outro. Quando paramos, percebo que seu olhar está diferente. Me analisando cuidadosamente.
- O que foi? - Pergunto constrangida.  
- Você é realmente muito bonita, Kate Green. 
Meu deus. Meu coração para, e sinto o chão sumir. A forma como ele fala me atinge muito mais do que como Abel costumava fazer. 
- Então, você vai me contar qual é seu lance com meu irmão? - Ele levanta uma sobrancelha, e me assusto com sua mudança de assunto. 
- Bem, a gente ficou junto por um mês e depois acabou. 
   Ele ergue as sobrancelhas e solta uma risada irônica. 
- Foi só isso? 
- Por que? 
- Pelo jeito que você gritou comigo quando pensou que eu fosse ele... aquilo parecia mais que um simples fim de ficada. 
  O encaro e depois me sento na grama, ele olha para mim e faz o mesmo. 
- O seu irmão foi um extrema idiota...
- Isso ele sempre foi. - Ele está rindo. 
- Abel já tinha uma namorada lá na cidade do seus pais... - Sinto meus olhos arderem. Não posso chorar! - E ele estava saindo com a metade da faculdade. Não se importava comigo, eu era apenas um brinquedo nas mãos dele.
Theo me encara.
- Eu lamento. - Seu olhar está triste. 
- Pelo o que? 
- Por você ter conhecido ele primeiro, em vez de mim. 
   E mais uma vez meu coração para, me sinto nervosa. Seu olhar penetrante me tira o folego. 
- Bem, acho que está na hora de irmos. - Ele olha seu relógio. - Vamos. Te acompanho até tua casa.
Levantamos e me sinto meio perdida pelas coisas que ele me disse. Foi uma cantada? Ele queria ter me conhecido antes? Por que? E a forma como muda se assunto me incomoda.
Respiro fundo e resolvo esquecer. Afinal, mal o conheço.
- Tudo bem. Vamos.

                                                                            ***
   DUAS SEMANAS SE PASSAM e minha vida está uma confusão com os ensaios, trabalhos da faculdade - mesmo Mary estando me ajudando, e as ligações incessantes do Abel, do qual nunca atendo. Em casa, minha amizade com Laura quase já não existe, somos como completas estranhas. Só nos cumprimentamos friamente, sinto como se ela escondesse de mim um grande segredo.
  Nos ensaios ando mais relaxada, já que tenho a amizade do Theo. Ele sempre me faz rir e está sempre em elogiando pela forma que canto. No meu tempo livre estou tentando voltar a compor algumas músicas. Me tranco no quarto com meu violão ou vou para o hotel usar o piano, que por ordem do Paul, está sempre a minha disposição.
   Enquanto espero o ônibus para ir ensaiar, ligo para minha mãe. Da última vez que conversei com ela, parecia gripada. Provavelmente por não para de trabalhar.
O celular chama. Um homem atende:
- Alô?
Que estranho. Me pergunto se liguei mesmo para o celular dela, ou me confundi e liguei para a loja.
- Oi, eu poderia falar com Marcela Green?
- Kate?
Ele me conhece?
- Sim...
- Sou eu, Kate. Felipe.
Meu coração para e em minha mente se consolida um vazio. Sinto minha pernas bambas e despenco no chão.
- Kate? Ainda está ai?
Tento raciocinar. Felipe está com mamãe? Quando ele voltou? Minha respiração fica ofegante e tenho que me forçar à responder.
- Cadê a mamãe?
- Não vai me cumprimentar? Nada? Nem um "quanto tempo"?
Solto uma risada irônica.
- Você tá brincando?! Cadê a minha mãe, Felipe? - Sinto uma raiva subindo em meu corpo.
Como ele se atreve! O que é isso? Todos resolveram aparecer depois de anos e exigir gentileza e abraços? Não tenho estômago para isso.
- Ela está ocupada. - Seu tom fica sério.
- E que diabos você está fazendo ai?!
- Vim visitar minha mãe, Kate. Tenho esse direito.
Dou uma gargalhada maior.
- Direito?! Você foi embora, a deixou sozinha comigo. Não tem mais direito a nada!
- Olha, Kate. Entendo que não tenha sido fácil para você e que esteja furiosa.
- Furiosa nem chega a descrever o que eu sinto! - Digo, asperamente.
- Eu entendo, e por isso não irei ficar discutindo com você pelo celular. Está perto do meio do ano e você pode vir aqui, assim podemos conversar melhor...
- Até quando você pretende ficar?
- Bom, dada as circunstancias, mais do que eu imaginava.
Dada as circunstancias?
- Do que você está falando? - Soou intrigada.
- Você entenderá quando estiver aqui. No momento não posso dizer mais nada.
O que? Tenho vontade de gritar com ele até não aguentar mais. Mas tento me conter.
- Ok. Vou desligar, mais tarde ligo para falar com a mamãe.
- Tudo bem. Até mais. E Kate...
Permaneço em silêncio, esperando que ele continue.
- Sinto sua falta, sempre senti.
Bufo.
- Me poupe, Felipe. - Desligo o celular, olho para o chão perdendo minha força, e começo a chorar.  

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