quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Músicas para se Divertir





   #1 - Taylor Swift - Shake It Off

   #2 - Demi Lovato - Really Don't Care ft. Cher Lloyd

   #3 - Spice Girls - Wannabe

   #4 - Calvin Harris - Summer

   #5 - Chlöe Howl - Disappointed

   #6 - Katy Perry - This Is How We Do

   #7 - Pharrell Williams - Happy

   #8 - Birdy - Light Me Up

   #9 - Lady Gaga - Applause

   #10 - Lady Gaga - Born This Way

   #11 - Pitbull - Timber ft. Ke$ha

   #12 - Rihanna - Umbrella ft. JAY -Z

   #13 - KT Tunstall - Suddenly I See

   #14 - Rihanna - Don't Stop The Music


Tudo Começou Em Chicago: Cap 6 (parte 2) - Primeiros Pesadelos

   Os dias passam tão rápido que mal me dou conta que já se passou um mês. Minha vida virou uma correria com todas as cobranças da universidade, não consigo parar em casa e vivo praticamente na biblioteca. Mas no final da tarde sempre vou ao café esperar Abel fechar a loja, depois ele me deixa em casa ou às vezes vamos até seu apartamento e ficamos conversando no sofá e muitas vezes nos beijamos.
   Nem acredito que estamos um mês juntos, e cada dia que se passa estou mais apaixonada por ele. A única coisa que me incomoda são suas saídas constantes, e o fato de todo final de semana ter que ir para a casa de seus pais, que fica em outra cidade. Logicamente  não reclamo, afinal de conta são os pais dele. Então às vezes aproveito sua ausência e ligo para minha mãe para saber como vão as coisa por lá, ela sempre parece estar ótima, o que me deixar muito feliz. Se não consigo falar com ela, fico sozinha em casa, já que agora Laura não fala mais comigo. Ela ficou com muita raiva quando tive que lhe contar sobre eu e o Abel:

- L, eu preciso falar com você. - Estou em pé na porta do seu quarto.
Laura parece não me ouvir , continua enfiada no guarda roupa jogando tudo que tem lá dentro para fora.
- L, preciso mesmo falar com você e tem que ser agora. - Encisto.
- Ai Kate, tem que ser agora mesmo? Porque tô super apressada, a Megan tá me esperando lá embaixo...
- Tem que ser agora - Falo, interrompendo-a.
Laura acha uma camiseta rosa sem estampa e veste, depois se vira para mim.
- O que foi Kate? - Responde chateada.
- Que tal a gente se sentar? - Vou andando até sua cama e sento. L me encara por um tempo, logo joga as mão para cima como se estivesse desistindo e senta na cama também.
- Pode falar, estou toda à ouvidos. - L fica me olhando esperando que eu comece a falar e eu começo a ficar muito nervosa.
Sinto que essa vai ser uma das conversas mais complicadas que já tivemos. Meu estômago embrulha e minha garganta dói.
- Fala Kate! - Laura abre mais os olhos. Então decido ir direto ao assunto.
- Eu e o Abel estamos juntos.
Fico esperando uma explosão da Laura mas simplesmente nada acontece, ela só permanece para me olhando. Então de repente seu olhar muda e sinto sua raiva me atingir por dentro. Laura da um salto da cama:
- Que porra é essa Kate?! - Ela está gritando e seu rosto fica vermelho. Sinto meus olhos encherem de lágrimas e minha garganta se fechar. - Fala Kate! Que merda é essa que você está me falando?!
- O Abel sempre foi afim de mim...
- Eu pensei que você o odiasse! - Levo um susto com a maneira que ela fala.
- Não! Q-quer dizer... - começo a gaguejar - ... a-acho que eu fiquei com raiva dele por ter te beijado. Acho que fiquei com ciúmes.
- Ciúmes?! Você está louca?! Eu gostava dele! Eu! E você sabe muito bem disso!
Começo a chorar, porque é verdade, eu sempre soube que L gostava do Abel e mesmo assim isso não me impediu que ficasse com ele. Me sinto uma péssima amiga. Com tantos outros garotos eu resolvi ficar logo com ele. Isso é uma droga!
- Me desculpe... - Falo baixinho, entre soluços. - Eu sinto muito.
- Mas que merda Kate! Pare de chorar! Sou eu quem está com o coração partido, foi a minha amiga que me traiu, não foi a sua! - Laura sai pela porta pisando forte, enquanto eu fico sentada na cama, sozinha, chorando.
Depois daquele dia Laura não trocava uma palavra comigo nem me olhava, só depois de duas semana começou a passar por mim e me cumprimentar. Agora ela me avisa se tem comida na geladeira, mas mesmo assim nada melhorou, sinto falta da minha melhor amiga e sinto ter estragado tudo. Sinto mesmo, Laura.
                                                                     ***
                                         
   Sou acordada por uma mão em meu ombro, levanto a cabeça assustada.
- Desculpa, mas aqui não é lugar para dormir. Se minha chefe descobre que você está dormindo aqui, provavelmente vai sobrar pra mim. - Uma garota com cabelos longos de cor castanho está parada na minha frente, ela sorrir constrangida. Olho em volta, estou na biblioteca da faculdade, devo ter dormido enquanto estudava para a prova de amanhã sobre a literatura francesa.
Esfrego os olhos e me alongo, sinto meu pescoço doer.
- Tudo bem, me desculpe. Estava muito cansada... - Começo a fechar todos os livros que estão abertos sobre a mesa.
- Marguerite Dura? - A garota pega um dos livros que estão em cima da mesa.
- Pois é. Prova amanhã.
"Muito cedo na minha vida ficou tarde demais." - Fala a garota, citando uma das obras da Marguerite.
- Você conhece O Amante ?
- Claro! - Ela dá uma risadinha contida. - Leio muito, e ela é uma das minhas autoras prediletas.
- Então você deve conhecer muito sobre a influência dela na literatura francesa...
- Conheço. - Ela fica me encarando sorridente - se quiser posso te ajudar... para a sua prova de amanhã... claro, se for esse o assunto.
Fico encarando-a, ela não para de sorrir mas não é nada extravagante na verdade, é bem tímida.
- Eu iria ficar muito agradecida.
- Ótimo! Meu nome é Mary. - Diz, esticando sua mão para me cumprimentar.
Aperto sua mão agradecida: - Kate.
- Kate, lindo nome.
- Obrigada. Então, você quer estudar aqui ou quer ir para minha casa?
- Oh! não, não, não... agora eu não posso. Meu turno termina em duas horas, se você puder esperar, quando eu terminar venho lhe ajudar.
- Ok. Por mim tudo bem. Vou ficar aqui lendo enquanto te espero.
- Certo. Só não durma mais. - Mary sorrir e sai perdendo-se no meio das pratilheiras.

                                                                         ***
-Oi. - Tenho que me concentrar para levantar minha cabeça, estou tão cansada que poderia dormi aqui mesmo.
Quando olho para cima, Mary está parada na minha frente.
- Oi. - Respondo.
- Desculpe a demora...
- Poxa, duas horas nunca demoraram tanto.
- Eu sei... Me desculpe. Se você não quiser estudar mais, eu entendo.
- Não, tudo bem. Minha prova é amanhã e eu preciso saber sobre esse assunto.
- Então você está na sala da Sra. Baumer? - Mary se senta na cadeira em minha frente.
- Isso. Como você sabe?
- Bem... - Percebo que seu rosto fica vermelho. - ... ela adora ensinar literatura francesa e principalmente, adora os livros da Marguerite Duras. Você é de que curso?
- Letras.
- Eu sou do Jornalismo. Tive que implorar para poder ter aulas com a Sra. Baumer.
- Ela é boa... Mary, podemos começar logo? É que já estou muito cansada... - Tento cortar o papo furado, não tenho paciência para isso.
- O-ok! Me desculpe.
Sinto por ter aparentado desinteressada, mas ultimamente não estou com muito ânimo.
- Que tal começarmos pela primeira filosofia dela?
- Acho uma ótima ideia.

   Ficamos estudando até a biblioteca fechar, estou muito cansada e o ato de abrir e fechar as pálpebras, consomem o pouco da energia que ainda me resta.
Mary me deixa na frente do meu prédio e depois vai embora. Quando saio do elevador vejo Abel sentado na porta, ele me olha e se levanta sorridente, já eu não consigo sorrir, minhas energias definitivamente se esgotaram.
- Você contou para Laura sobre a gente?
 Concordando com a cabeça.
- Então foi por isso que quando ela me viu, bateu a porta na minha cara... - Abel chega perto de mim e coloca o braço em cima do meu ombro.
- Hum... - É o único som que eu consigo fazer.
- Isso é cansaço demais?
- Hum...
- Que tal um banho?
- Hum...
Escuto Abel rindo, mas eu não dou bola, afinal estou morrendo de sono. Pego a chave e abro aporta, Laura provavelmente já está dormindo a essa hora. Levo Abel até meu quarto, na tentativa de fazer o mínimo de barulho possível. Entro no quarto e me jogo de barriga na cama.
Abel anda até o banheiro e posso escutar o chuveiro, depois ele volta e se abaixa do meu lado.
- Ei, preguiçosa... vamos tomar um banho. - Abel passa a mão pelo meu rosto, tirando o cabelo que cai sobre ele.
- Hum...
Abel rir. - Venha.
Ele me pega nos seus braços e me leva até o banheiro. Sento no vaso enquanto o vejo trancar a porta, tiro devagar a minha blusa e minha calça, vejo Abel fazendo o mesmo.
- Vamos, fique de costas.
Eu o obedeço porque não consigo pensar em mais nada. Abel tira meu sutiã e depois me lava para dentro do chuveiro, onde a água cai bem quentinha. Ele passa os dedos pelo meu cabelo e eu fecho os olhos.

   Depois de tomarmos banho, Abel me veste com um pijama, e juntos deitamos na cama.
- Kate, não posso deixar de observar que você está especialmente linda hoje.
- Hum...
Então a última coisa que sinto é seu beijo em minha testa, logo apago.

                                                                           ***
   Acordo com o sol em meu rosto, vejo Abel deitado ao meu lado, então decido sair da cama e vou até o banheiro, quando me olho no espelho levo um susto, meu rosto e meu cabelo estão horríveis. Fico desesperada, passo meus dedos pelo cabelo em uma tentativa frustrada de acalma-lo.
- Pra quê isso? - De repente escuto a voz de Abel atrás de mim, tomo um susto ainda maior. Ele está com o cabelo todo assanhado e sem a camisa, só com a calça, fica esfregando a mão no olho. Sua visão me deixa sem ar.
- Pra quê isso o que?! - Falo meio rápido demais deixando transparecer meu nervosismo.
- Não precisa ajeitar seu cabelo assim, você está linda.
Abel se aproxima de mim e me beija. Me derreto toda em seus braços.
- Dormiu bem? Você estava muito cansada ontem.
- Sim... - então eu lembro dele me carregando no braço e me dando um banho. - obrigada...
- Tudo bem. - responde beijando-me novamente. - Kate, precisamos conversar.
- Sobre o que?
- Hoje a noite vai ter uma festa lá no apê de um amigo, mas terei que sair mais cedo para pegar o ônibus.
- Vai pra casa de sua mãe de novo? - Me sinto meio triste, mas tento entendo.
- Pois é... também queria passar esse final de semana com você, mas minha mãe faz questão que eu esteja lá.
- Ok...
- Não fica assim... - Abel segura meu queixo, forçando-me a olha-lo nos olhos. - Quero que você venha comigo nessa festa de hoje.
- Mas eu tenho prova hoje. - Tento arrumar uma desculpa.
- Não tem problema eu te pego quando você terminar. Por favor? - Abel faz aquela cara de cachorro pidão e eu me derreto.
- Tá certo. - Reviro os olhos.
                                                                   ***

   Depois que termino a prova, encontro Abel na frente da universidade. Caminhamos juntos até a casa do seu amigo, já é noite e o lugar parece lotado.
Logo que entramos percebo que várias pessoas ficam nos encarando, não deixo de notar que muitas garotas sorridentes não param de olhar para o Abel, algumas até chamam por ele, mas Abel parece não perceber ou finge não notar. Isso faz com que eu comece a me sentir incomodada.

   Andamos até a varanda do apartamento onde encontramos vários amigos do Abel.
- E ai, Abel! Pensei que você não chegaria a tempo, a Lari...
- Oi Johnny! - Abel o interrompe. - Essa aqui é a Kate. Kate, Johnny.
- Oi. - Cumprimento baixinho.
- Ah! então essa é a tão famosa Kate ! - Não posso deixar de notar a sua enfatização. - Estávamos todos querendo conhecer você, o Abel não para de falar de como você é bonita, e agora vendo de perto, tenho que concorda com ele.
Johnny é um dos mais antigos amigos do Abel. Ele é alto e magro, tem o cabelo todo arrepiado para cima e os braços cheios de tatuagens.
- Abel nos disse que você toca. É verdade? - Todos que estão em volta da mesa me olham.
- Bem... toco um pouco.
- Nossa, que ótimo, porque essa festa está uma chatice. Pega meu violão ali. - Ele aponta para um violão marrom encostado na parede. - Tá meio velhinho, mas serve. Toque alguma coisa.
- Acho melhor não. - Começo a me sentir ansiosa.
- Toque Kate. - Abel fala e em seguida vai até o violão, trazendo-o para mim. - Toque alguma coisa para mim.
Fico segurando o violão, olhando todas as pessoas. A única vontade que tenho é de sair correndo.
- Ei Abel! Sente-se com a gente. - Uma garota loira o chama. Abel vai até ela e senta no meio do grupinho de garotas, todas sorridentes e que não param de alisar o cabelo dele.
Sinto uma ponta de ciúmes surgindo dentro de mim. É tão estranho, sinto vontade de gritar mas em vez disso decido cantar.
Sento em um baco de madeira, que está do lado de Johnny,  limpo a garganta e dou os primeiros toques no violão:
     
"Eu posso não te amar pra sempre
Mas enquanto houver estrelas sobre você
Você não precisa duvidar disso
Eu vou fazer você ter certeza disso
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Se você algum dia me abandonar
Embora a vida continue, acredite
O mundo não pode me mostrar nada
Então de que me adiantaria viver?
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Se você algum dia me abandonar
Bem, a vida continua, acredite
O mundo não pode me mostrar nada
Então de que me adiantaria viver?
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você"

Quando termino, percebo que ninguém estava prestando atenção, nem mesmo Abel, e aquilo me dar uma vontade de vomitar e uma vontade louca de chorar. Então, só coloco o violão no chão e vou embora.

sábado, 20 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 6 ( parte 3) - Existem vários monstros. Esse foi o primeiro.

   Chego em casa e vejo Laura dormindo no sofá, tento não acorda-la e vou andando nas pontas dos pés para meu quarto. 
- Você chegou. - Escuto L atrás de mim.
- Desculpe-me, não queria acorda-la. - Me viro para ela. L está com o rosto marcado, provavelmente por ter adormecido no sofá. - Já estou indo dormi. Boa noite. 
- Kate... - L segura minha mão, impedindo-me de ir embora. - Você saiu com ele hoje? 
Fico olhando para seu rosto marcado e seu olhar curiosos, mas um pouco apreensivo. Por que? 
- Sim. 
- E voltou tão cedo... sem o Abel? Aconteceu alguma coisa? 
- Aonde você quer chegar Laura? - Seus questionamentos me deixam incomodada.
- E-eu? - Percebo sua voz tremula. - Em nenhum lugar. Foi só uma pergunta. 
- Hum... Tudo bem. Então se não se importa, vou dormir. - Respondo e puxo minha mão da dela. Vou para meu quarto deixando-a parada no corredor. 
   Depois de tomar banho, me deito na cama e fico repassando as perguntas feitas por L. O que ela quis dizer com aquelas perguntas? Foi como se ela soubesse de alguma coisa. Mas o que? Por que não foi direto ao ponto? Pensar em um motivo me deixa irritada. Também tem o Abel que até agora não me mandou uma mensagem, nem me ligou por eu ter ido embora. Até parece que ele nem se importou. Começo a pensar naquelas garotas loiras do lado dele, rindo e o abraçando. Tenho tanta raiva que decido fechar os olhos na tentativa de cair no sono. 

                                                                              *** 
   O final de semana passa e nem sinal do Abel, desde aquela noite não tenho notícias dele. Será que  ficou com raiva de mim por ter ido embora sem falar com ele? 
- Você entendeu? 
Acordo dos meus pensamentos com a voz da Mary. Estamos na biblioteca revendo alguns assuntos para a prova de amanhã. Me sai muito bem na prova da sexta por causa dela, então perguntei se Mary poderia continuar me ajudando, mas com esses pensamentos perturbando minha mente, está difícil de estudar. 
- Ah! Me desculpe, Mary... Hoje não está sendo um bom dia. 
- O que foi Kate? Se quiser me contar, saiba que sou boa com conselhos. - M sorrir, o que me faz sentir confortável em está com ela. 
- Abel...
- Quem é? Seu namorado?
Fico sem responder. Na verdade, não sei o que responder. Namorado? Será que é isso que ele é. Já não sei mais. 
- Meio que isso. Estávamos juntos a um mês, mas... 
- Mas? - Mary parece ávida por respostas. 
- Mas teve uma festa na sexta, e ele estava diferente... Abraçava todas as garotas, nem notou quando fui embora, e depois disso não me ligou desde então. 
- Hum... - Mary faz uma cara de quem está analisando um caso de detetive. Esfrega o queixo e solta um suspiro. - Bem, Kate... acho que esse tal de Abel está te traindo, ou não gosta o suficiente de você. 
Fico paralisada com sua resposta. Tenho vontade de rir quando penso que Abel nunca faria isso comigo, ele é sincero. Então no mesmo momento meus pensamentos param, a vontade de rir vai embora e meu estômago dói quando me dou conta que isso é exatamente o que aquele Abel da festa faria, me trairia. 
- Kate? Ai, Kate... me desculpe se fui longe de mais. Sempre falo o que não devo. 
- Não. Você está certa. - Naquele estante tudo faz sentindo, as garotas abraçando ele, as perguntas descabidas de Laura, e o silêncio do Abel. - Abel deve está me traindo. 
- Kate, olha, talvez não seja isso. Falei aquilo sem pensar. Não conheço ele, então não tenho como analisar essa situação cem por cento. 
- Eu sei... mas você acertou. Só pode ser isso, e eu fui burra demais em acreditar nele. - Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto. 
Levanto, coloco os livros na mochila e vejo minhas lágrimas pingando por toda a mesa. 
- Kate, calma. 
- Desculpa Mary. Acho que não poderemos estudar mais hoje, e provavelmente nem amanhã. 
- O que?! E suas provas? - M pega o lápis que deixei cair. Quando vou pegar de sua mão, Mary me  segura e me força a olha-la. - Você tem que parar! 
- O que? 
- Parar para pensar se não está sendo precipitada. 
- Não estou. - E então solto um ar frustrante pela boca e olho séria para M. - Passei o final de semana todo pensando, e agora tenho a resposta. 
Me solto das mão de M e vou embora. 
               
                                                                             ***
   Fico o resto do dia jogada em cima da cama, chorando. Então decido parar, vou no banheiro lavar meu rosto, depois ando até a cozinha a procura de um grande pote de sorvete. Laura saiu com as amigas, o que me proporciona um ótimo momento sozinha. Abro o a geladeira e percebo que não sorvete, isso me força a ir até a padaria. Que merda, penso comigo, não queria sair de casa.
De repente escuto me celular vibrar. Vou até ele e vejo uma mensagem do Abel: " Hey! Cadê você? Estou te esperando aqui no café."  
Tenho uma vontade imensa de gritar, mas só permaneço olhando aquela mensagem. Como ele pode agir tão naturalmente, como se nada tivesse acontecido? No mesmo estante o celular começa a tocar na minha mão. Abel. Resolvo não atender, não tenho condições de falar com ele agora. Nem nunca, penso. Logo em seguida, recebo outra mensagem dele: "Kate? Tá tudo bem? Tô te esperando. E morrendo de saudade.
Ler aquela mensagem me dá nojo, uma vontade de vomitar. Como ele consegue mentir tão descaradamente? Desligo o celular para não receber mais suas mensagens. Pego a bolsa e vou comprar meu sorvete. 

   Quando estou voltando para casa, vejo Abel parado na frente do prédio. Sinto meu coração parar. 
Ele me avista e acena, mas não está sorrindo, na verdade está com um rosto sério. Tenho vontade de dar meia volta e sair correndo, mas em vez disso continuo andando sem manifestar nenhuma afeição. 
- Abel. - Digo friamente. 
- Kate... - Seu olhar tenta encontrar os meus, mas me viro para o portão sem fazer nenhum contato, pois não sei do que sou capaz de fazer. - Tudo bem? Fiquei até tarde te esperando no café, mas você não apareceu. Mandei várias mensagens... 
- Pois é. Acho que esqueci. 
Quando vou abrir o portão Abel o segura, bloqueando a passagem. 
- Qual é o problema Kate? 
- Nenhum. Só quero ir para casa. - Continuo evitando olhar para ele. 
- Por que está tão fria? - É nesse momento que não consigo mais me segurar e explodo:
- Porque é deste jeito que fico com pessoas que me traem! Porque não confio mais em você! Porque você é um babaca! - Desta forma, tudo vai por água a baixo, todo meu controle se vai e começo a chorar. 
Abel parece surpreso e vejo seu rosto ficar branco. 
- Do que você está falando? 
- Não se faça de bobo! Você sai com outras! Só quero saber, o por quê? Por que comigo? Se não estava afim de mim, por que tudo isso? 
- Kate, eu não sei do que você está falando. - Abel mantem a voz baixa, o que me faz vontade de gritar ainda mais. - Na verdade, nem sei o que dizer. 
- Que tal dizer a verdade só pra variar?! 
- Nunca te trai. 
Fico encarando-o, esperando por mais justificativas, mas ele para e me encara também. 
- Quem era aquelas garotas na festa? 
- Que garotas? - Abel levanta a sobrancelha como se não lembrasse. 
- As loiras. 
- Ah sim! Elas são minha amigas. Fazem parte da turma. - Ele para e depois volta a falar. - Eu só tenho olhos para você.  
- Você nem percebeu quando fui embora. Você mente o tempo todo. - Agora já não mais grito. Falo calmamente, porque não tenho mais forças para isso. Só quero ir embora. 
- Kate, eu pensei que estivesse cansada e que não queria mais ficar ali, então deixei você ir. Não te liguei depois porque fui para casa dos meus pais... não imaginava que você estivesse assim. 
Permaneço ali, parada, olhando para o garoto que achei que estivesse apaixonada, mas a única coisa que sentia era ânsia. 
- Tudo bem... agora eu quero entrar no meu prédio. - Me viro de volta para o portão. Abel sai da frente e eu saio andando. 
- Posso te ver amanhã? - Escuto sua voz atrás de mim. 
- Acho melhor não. - Respondo sem me virar e vou embora.  
 

Capas Para Facebook #2










quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Capas para Facebook !!








segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 6 ( parte 1 ) - Estrelas Pelo Caminho

Ficamos na sala sentados no chão jogando baralho. Sempre que tem a oportunidade, Laura vai a cozinha providencia lanches. Abel não deixa de sorrir toda vez que cruzamos os olhares, o que me deixa bem nervosa, mesmo sem saber o por quê. Não é como se eu estivesse apaixonada por ele, sabe? Afinal, o conheço a pouco tempo, pouco tempo mesmo. E sinceramente, já estou com muita coisa para pensar, não tô afim de me envolver em uma paixonite qualquer.
Depois de mais algum tempo, L adormece no sofá. Pego o celular para ver a hora. 
-Nossa, já é bem tarde... duas da manhã.
-Ok ok, entendi, essa foi a minha deixa. - Abel se levanta, e estica os braços se alongando. Fico olhando para ele, em como seu cabelo cai sobre a testa, e como seus olhos brilham, é o tom de azul mais brilhoso que já vi. Balanço a cabeça. 
-Acho melhor você ficar... - Abel para de repente, e levanta um sobrancelha. - O que foi? Se prefere andar pelas ruas de madrugada, correndo o risco de ser assaltado, tudo bem. Não sabia que era tão audacioso. - Digo ao revirar os olhos. 
-Não é isso... só que foi pego de surpresa. - Abel me lança um sorriso contido, mas logo depois fica sério. - Ei Kate... por que não gosta de mim? Digo, por que sempre me trata friamente? - Pergunta olhando para o chão. Faço uma cara de surpresa, não esperava essa pergunta, na verdade nunca pensei nisso. Por que sempre o trato assim? Por que sou fria? Sempre fui assim eu acho. 
-Não sei... nunca tinha percebido que te tratava mal. Acho que sou assim... às vezes as palavras saem da minha boca. E desde o dia que você beijou a Laura e depois ficou evitando vê-lá, sei lá, acho que fiquei irritada com a sua atitude. -Paro um pouco para pensar em tudo que aconteceu, e sinceramente não tenho nada contra ele. - Mas não faz diferença agora, L te perdoou, então não tenho mais motivos para ficar irritada. - Falo encarando-o. 
-Hum... e você me perdoou? -Ele coloca as mãos no bolso da calça. 
-Não cabe a mim perdoar. 
-Mas é importante para mim. - Abel está mais sério que o normal, e isso vai me deixando mais nervosa.  
-Kate... - Ele senta ao lado no chão, seu rosto está tão perto do meu que posso sentir seu calor. - Eu gosto mesmo de você, e sei que nos conhecemos há pouco tempo e que tudo isso que estou falando possa parecer ridículo. Sei que só faço merda e que só cheiro à café, mas juro que de todos os erros que já cometi, o maior foi não ter beijado logo, desde o início... e mais uma coisa, eu não consigo parar de pensar em você.
   Fico parada olhando seus olhos que me queimam por dentro, parecem nervosos, ansiosos e suplicam. Mas pelo o que?
Engulo em seco, minha garganta parece está se fechando. -Abel -Minha respiração fica mais acelerada.
Abel coloca uma mão no meu rosto e a sensação é tão boa que fecho os olhos.
-Vou te beijar.
-Então me beije. -Respondo mantendo os olhos fechados, logo em seguida meus lábios são envolvidos pela sua boca, que me beija intensamente e eu só consigo pensar na mistura de café e na imensidão de sentimentos que há em seu beijo. Penso em mais uma coisa: Eu o quero.

   Perco a noção do tempo em que ficamos ali, nos beijando. Abel agora enterra seus dedos no meu cabelo e eu seguro a borda de sua camiseta.
-Kate... - Abel morde meu lábio inferior, e sua respiração fica mais forte. -... devo parar?
-Não. - Digo.
 Puxo sua camiseta para cima na tentativa de despi-ló, então escuto Laura se mexer no sofá e congelo. Nós dois paramos e ficamos olhando um para o outro com nossas respirações alteradas, L só se mexe mais uma vez e logo escutamos seu ronco. Abel sorrir e depois deposita um beijo no meu nariz.
- Acho que devemos dormi. - Falo baixinho.
- É, acho que sim.
Ficamos olhando um para o outro e começo a rir.
- O que foi?
- Não sei. Isso aqui que aconteceu entre a gente... - Respondo gesticulando com os braços.
-"Isso aqui" se chama pegação, rolo, namoro. Tudo menos "isso aqui". - Responde e beija meu nariz mais uma vez. - Ai meu deus! Como eu amo esse nariz!
Caímos na gargalhada. Sinto minha barriga doer e aquele velho nervosismo me atinge. Paramos de rir, e volto meu olhar para o chão.
-Vamos devagar ok? - Minha voz sai baixa, mas forte o suficiente.
Abel me encara por mais alguns segundos e sorrir.
- Ok. Acho que posso conviver com isso. 
Sorrio para ele e me coloco de pé. - Vamos arrumar algum canto para você dormir.
                                           
                                                                          ***

   Depois daquela noite, os dias passam rápidos. Tenho evitado falar com Abel, simplesmente porque namorar, a ideia de namorar me assusta, ter sempre alguém por perto. Acho que não sirvo para isso. E tenho quase certeza que isso vai dar merda.
   Estou na sala de aula quando sinto meu celular vibrar em meu bolso. Coloco a mão no bolso e vejo uma mensagem do Abel. Fico nervosa, estávamos sem nos ver a uma semana. Limpo minha garganta e leio: "POSSO TE VER HOJE?"
Logo em seguida chega outra mensagem: "PIZZA?"
E depois outra: "POR FAVOR..."
Ele parece sentir mesmo minha falta, não posso negar que também senti falta dele. Resolvo responder: "AS SETE. NO MEU APÊ. QUATRO QUEIJOS." Será que fui fria demais? Não importa, estou feliz que irei vê-lo.

                                                                            ***

 
   Olho o relógio, Abel logo chegará. Corro para tomar um banho, coloco uma calça de moletom e uma camiseta branca, deixo meu cabelo cair na frente pelo ombro e aperto minhas bochechas na tentativa de deixa-las mais rosadas. Em seguida começo a arrumar o quarto, que está uma bagunça fora de controle. Então escuto a campainha, Abel.
   Minha respiração fica mais acelerada e tenho a sensação de que vou explodir. Ando até a porta contando todos meus passos, aperto minhas bochechas mais uma vez com tanta força que tenho certeza que em vez de rosadas, ficaram roxas.
Quando abro a porta Abel esbanja um sorriso lindo e seus olhos brilham mais que qualquer outro dia, seu cabelo molhado cai divinamente por sua testa. É de tirar o folego. Ele carrega a pizza bem a sua frente.
- Boa noite. - Me cumprimenta contido.
- Boa noite...
- Posso entrar? - Fico tão encantada com o olhar dele quem nem percebo que estamos parados na porta.
- C-claro. - Dou uma risada nervosa e pisco várias vezes. Ai meu deus! Isso é um desastre. Eu sou um desastre. - Me desculpe.
Abel rir, o que me faz sentir mais nervosa.
- Kate, você é uma graça quando está nervosa. -  Abel estende seu braço e  segura meu queixo com as pontas dos dedos, depositando um beijo casto no meu lábio. Fico paralisada. - Boa noite, Kate.
Seu olhar é tão sedutor e ao mesmo tempo intenso, que começo a sentir todo o ar em minha volta pesado.
- Abel...
- Então, o que vamos fazer? - Abel se joga no sofá colocando os braços atrás da cabeça.
- Eu não sei. - Me mantenho em pé.
- Nossa Kate! Use a criatividade.
- Eu realmente não tenho a menor ideia do que podemos fazer. - Respondo dando de ombros.
- Tudo bem.. - Percebo um sorriso malicioso em seu rosto. - eu sei o que quero fazer, a questão é: você aceitaria?
Fico encarando seu rosto por um tempo, tenho um pouco de medo da minha resposta.
- Provavelmente.
Abel alarga mais o sorriso que está plantado em seu rosto. - Sente ao meu lado. Não fique distante.
 Ando  em direção a ele. Abel abre um espaço no sofá e sento entre suas pernas.
- Me fale, do que você gosta de fazer?
- Como assim? - Não entendo direito sua pergunta, então fico encarando-o.
- O que você faz para passar o tempo? Para se divertir? - Ele parece extremamente alegre, e ávido por informações.
- Hum... - Paro para pensar um pouco. O que eu faço para me divertir? Ora, eu escrevo. - ... escrever.
- Mas disso eu já sei. Quero saber alguma coisa nova, alguma coisa sobre você que eu ainda não saiba. - Paro para pensar mais uma vez, mas não tenho nada em mente.
- Nada. Não sou uma pessoa que tenha uma vida interessante. Na verdade, a minha vida é bem careta. - Certo... - Abel coça o queixo e permanece me encarando. - Então acho que vou te beijar. Assim podemos aproveitar melhor o tempo.
Prendo minha respiração por um segundo, mas a medida que a mão dele vai tocando meu rosto, sinto tudo em mim relaxar, toda a tensão se foi e meus lábios encontram os dele novamente.
   Abel está com as mãos no meu cabelo, e eu seguro forte sua nuca. Nós dois estamos quentes e cada vez mais sem fôlego. De repente ele para, me deixando meio perdida.
- Kate... - Diz encostando sua testa na minha. - Toque alguma música no violão para mim...
Meu peito sobre e desce, não entendo direito o motivo do seu pedido, é então que me dou conta de que nunca o disse que tocava.
- Como você sabe disso? - Levanto uma sobrancelha.
- O que?
- Sobre eu tocar. Como sabe que eu toco? - Fico encarando-o meio desconfiada.
Abel solta um suspiro e olha para nossos dedos entrelaçados: - A Laura comentou.
Claro, a Laura. Já tinha me esquecido que eles dois se beijaram e que depois o Abel deu um de babaca sem querer falar com ela.
- Ah... - É a única coisa que digo, por que a lembrança deles juntos me dá um nó no estômago.
- Ei. - Abel prende meu rosto com suas duas mãos, colocando uma de cada lado e me forçando a olhar para ele. - Aquilo foi um erro. Esqueça o que eu fiz, eu só costumo fazer merda e aquilo não foi diferente.
- A Laura é apaixonada por você... - Respondo baixinho porque nem eu quero escutar minhas palavras.
- Não. Ela só tem uma quedinha por mim, mas quando encontrar o cara certo, ela me esquece. - Abel me encara por um tempo como se tentasse enxergar através dos meus olhos. - Kate... eu sei que o que vou dizer agora é muito clichê, mas... - Ele me olha mais uma vez e sorrir. - ... é por você que meu coração bate mais forte, e quando seu perto de você tudo muda, é como caminhar entre as nuvens. E isso me assusta, porque é muito forte.
Meu peito se enche de ar e tenho certeza que meu rosto está todo vermelho. Em um movimento rápido salto para cima dele, que leva um susto e me agarra, e começo a beija-ló por toda parte. Beijo sua testa, seu nariz, seus olhos e sua boca. Escuto sua risada se divertindo, então ele me para segurando meu ombro e me olha achando graça.
- Toque para mim.
Dou lhe mais um beijo do nariz e me levanto: - Tudo bem. Fique aqui enquanto pego meu violão.
- Pode deixar. - Abel pisca um olho.
Corro até meu quarto e pego meu violão, quando volto para a sala Abel está sentado no chão.
- Não consigo me acostumar com essa sala sem televisão.
- Depois de um tempo, você se acostuma. - Sento no chão ao lado dele, posiciono o violão para que fique confortável. - Algum pedido senhor?
- Me impressione. - Abel deposita um beijo em minha boca.
Dou uma risadinha e depois paro para pensar em alguma música. Então tenho uma ideia.
Limpo a garganta e toco as primeiras notas:
                     
"Eu descobri que talvez eu estivesse errada. Que eu caí e, não posso fazer isso sozinha. Fique comigo, isto é o que eu preciso, por favor. 
Cante-nos uma música, e a cantaremos de volta pra você. Nós poderíamos cantar sozinhos, mas o que isto seria sem você? 
Eu nem sou nada agora e faz muito tempo desde que eu escutei o som, o som da minha única esperança. Desta vez eu estarei escutando. 
Este coração, bate, bate apenas por você... Meu coração é seu! 
Meu coração é seu... seu. Eu descobri que talvez eu estivesse errada."

Abel está batendo palmas, o que me faz rir. Por alguns minutos, pude esquecer tudo relacionado ao Paul, todos os problemas que vem junto com ele, as lembranças. Pensar nisso, me faz gostar ainda mais do Abel, de como em pouco tempo presente em minha vida, conseguiu mudar tanto.
- Você foi fantástica! Quando Laura me disse que você tocava não imaginei que fosse como uma profissional! - Os olhos dele brilham, me fazendo ficar vermelha.
- Profissional?! - Fico rindo da cara dele ao pronunciar "profissional" - Não sou profissional, só tocava de vez em quando... - E é ai que decido não contar sobre meu pai, ou sobre todo o resto que o envolve.
- Então você é um prodígio, e deveria investir mais nessa parte. Sabe, eu tenho um irmão que toca guitarra muito bem, tão bem que com certeza seria aceito por qualquer banda.
- Ah é? - Levanto uma sobrancelha e sorriu maliciosamente.
- É. - Abel se arrasta até estar bem perto de mim, e beija meu nariz. - Mas ai ele decidiu que a família dele não servia e saiu de casa.
- E pra onde ele foi?
- Não sei... - Responde dando de ombros. Percebo seu rosto ficando sério, e fica claro que esse assunto é realmente importante.
- Ei. - Seguro seu queixo, Abel olha para mim. - Tudo bem?
Ele balança a cabela concordando, depois sorrir.
- Acho melhor a gente se beijar logo e deixar de ladainha. - Abel sorrir.
Dou uma risadinha e me sinto vermelha.
- Também acho. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Como Morango&Queijo : Às Vezes 1+1 pode ser 1



Passei muito tempo olhando para a tela do notebook, pensando em como começar este texto. Rescrevi várias vezes, e chegue até desistir. Então voltei, porque achei que você merecesse mais esforços da minha parte. Portanto, decidi começar por onde todo mundo começa: pelo começo.
Lembra daquele dia? O dia que você se mostrou muito mais corajosa do que eu, e veio falar comigo. Lembra como eu parecia um bichinho do mato? Como eu não gostava de falar com ninguém? Pois é, você me mudou. E não me refiro a uma simples mudança, e sim a uma metamorfose completa. Você conseguiu me ajudar no momento mais estranho da minha vida. Quantos anos a gente tinha mesmo? Acho que eu tinha dez anos, e você, onze. Então lá estava você se mostrando toda prestativa e amiga, e nunca desistia de tentar falar comigo, mesmo eu não sendo nem um pouco receptiva. Sempre me perguntei do por que de você, que morava na outra rua, querer se tornar minha amiga. Eu era estranha. Bem, mesmo sem saber sua resposta, agradeço todos os dias por ter sido tão persistente. Valeu por não desistir.


Depois o tempo passou, a gente começou a fazer as coisas mais loucas possíveis. Lembra das nossas danças? Das nossas interpretações? Acho que ninguém no mundo era tão bom quanto a gente. Não podemos esquecer das revistas, e gibis. Compartilhávamos tudo. Não sei dizer ao certo quando foi que a gente deixou de ser  "eu e você" para virar "nós". Simplesmente, um dia aconteceu. Eu estava sempre ali por você, e você por mim... Eramos mais que amigas, e foi a primeira vez que tive uma amiga, irmã, e compartilhadora do mesmo espirito, tudo no mesmo pacote.


Os dias continuaram passando, fizemos até um juramento, lembra? Como era... "Amigas hoje, amanhã, e sempre." ,trocamos até colares... É engraçado como toda vez que penso em você, em tudo que representa na minha vida, começo a sorrir, deve ser esse carinho que a gente tem uma pela outra. Pois é, é raro achar amiga assim.


Ai chegou aquele dia, aquele que você foi embora, e me senti sozinha de novo. Com certeza um dos dias mais triste que já tive. Eu não conseguia nem sair mais de casa. Andar pelas ruas sem você, sem o que a gente representava, não fazia sentido. Foi tão de repente sabe? Num instante você não estava mais lá. Não era justo.


Mas a gente cresceu, e não tinha ninguém que pudesse nos separa. Eramos como morando e queijo: bons separados, mas maravilhosos juntos. Você era (e é) a única pessoa para quem eu sempre contava tudo, lances com garotos, lembra? Tínhamos códigos: "coxinha", por exemplo, (sei que você não gosta de lembrar disso, mas não o torna menos engraçado e significativo). 
   A questão é que hoje, estamos na faculdade (quem diria), cada uma seguindo seu rumo, em busca do nosso "Grande Talvez". Vários amores, corações partidos, amigos, inimigos, provas, cidade nova, moradia nova, mas nada mudou entre a gente. Não sei quanto a você, mas isso me da uma sensação de imortalidade, saber que mesmo com todas as nossas brigas, ainda estamos aqui e daqui não sairemos.


Obrigada por isso, por ser quem é, por estar comigo e acreditar em mim. O que temos vou levar para sempre comigo, como se você fosse um casaco velho, aquele que fica jogado no fundo do guarda roupa e você não consegue se livrar dele porque é simplesmente o melhor. Pois é, você é simplesmente a melhor. Com certeza somos mais que amigas, mais que irmãs, somos a prova viva que às vezes 1+1 pode ser 1.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Marcadores de Páginas Super Fofos




Vocês já ficaram super com vontade de ter um marcador de páginas bacana e fofo?
Sempre quis marcar meus livros com marcadores bonitinho, mas eu não nunca encontrava. Então resolvi trazer alguns marcadores, e vocês podem simplesmente imprimir!! 











Espero que tenham gostado, e que se divirtam com novos marca páginas!!! ;)

domingo, 7 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 5 - O Reencontro

Paul está parado, com os braços suspensos em volta do corpo, usa uma calça de pano que parecia mais um pijama, uma camiseta com a marca da banda "The Tigers", seu cabelo está comprido, chegando no ombro, mas continua loiro, e ele usa anéis em todos os dedos.
-Você estava aí durante toda a música? - Pergunto, sinto meu coração disparar, a cabeça girar, o estômago doer.
-Não... cheguei na metade. Vim correndo quando soube que você estava aqui. - Ele esfrega as mãos na calça, fico lhe encarando. - Desculpe-me, estou muito nervoso... - Se explica ao perceber meu olhar nas suas mãos. Confirmo com a cabeça. -Kate... ver você aqui... me trás esperanças... esperanças de que você pode vir a me perdoar. Estou certo? 
-Não. 
-Kate...
-Paul... Só vim aqui, para dizer que você nunca mais deve me procurar. Nunca, entendeu? - Vejo Paul arregalar os olhos.
-O que? Kate não seja precipitada. Você nem escutou o que tenho para dizer. 
-Exatamente. Eu não preciso escutar o que você tem para me dizer, a resposta será sempre a mesma. Não devemos perder tempo, Paul. 
-Pare de me chamar assim, como se eu fosse um desconhecido. 
-Mas é isso que você é, um completo desconhecido. Nada mudou Paul. - Sinto meu olhos se encherem de lágrimas.
-Já chega Kate...
-Chega? Você não ouviu nem um terço do que tenho para te dizer! - Começo a falar mais alto, e quando termino a frase percebo que estou gritando.
-Kate... 
-Você me deixou Paul! Me deixou, pra seguir seu sonho! Me abandonou durante oito anos! Nunca deu noticias, ou tentou falar comigo! E por tudo isso, eu te odeio! - Estou gritando tanto, que sinto minha garganta queimar.
-Já chega, Kate! - Paul da um grito mais forte, preenchendo todo o salão, e me dando um susto. Paro de gritar, o encaro com o rosto molhado. -Já chega tá? - Diminui a voz, agora é só um sussurro. -Eu já estou consciente de tudo que fiz no passado, da marca que deixei em você... eu já sei... 
Paul começa a chorar, o que me deixa sem reação. Ele cobre o rosto com as mãos.
-Eu sofri todos esses longos anos, por não poder falar com você, tocar você, te ensinar... Kate, você é a minha filha, o bem mais precioso que eu tenho. Não me deixe... - Fico lhe olhando, quero falar, mas não tenho voz.
-Por favor, me escute. Posso lhe explicar tudo... - Ele me olha, esperando minha autorização. Confirmo com a cabeça. -Ótimo, vamos nos sentar. - Paul pega um banco e leva para perto de mim, e eu me sento no banco do piano. Nunca estive tão nervosa, minhas pernas não param de mexer, e a vontade de vomitar só aumenta.
-Eu andava muito desanimado, depressivo até. Meu sonho sempre foi fazer música, e viver uma vida de astro. Me vi arrodeado de coisas que a principio, eu não desejava. 
-Como filhos, uma esposa... Família. 
-Basicamente isso. Digo, não que eu não os amasse, mas não via graça naquilo. Me sentia preso. As únicas horas felizes, eram quando eu lhe dava aulas de violão, guitarra e piano. Conseguia enxergar em você o que um dia já fui, feliz. 
-Você não parecia ser uma pessoa infeliz, estava sempre sorrindo, brincando, tocando violão. Nunca tinha te visto brigar com a mamãe. -Tento olhar nos olhos do Paul, mas ele está encarando o chão. Escuto ele sorrindo, um sorriso roco.
-As aparências enganam... Eu amava a sua mãe, mas ela não entendia que eu precisa tentar, se recusou a vir comigo para Europa. Você acha que foi fácil deixa-la assim? Vê-la chorando daquele modo? Passei a noite anterior acordado, vendo-a dormi, vendo sua respiração, sentindo seu cheiro, não tê-la mais era muito assustador para mim. Então caminhei até seu quarto, Kate... Você era tão pequena... estava perdida no meio de tantos bichos de pelúcia, fui até você e lhe dei um beijo, um beijo de despedida. Me doeu ter que te deixar, doeu tanto que eu pensei que iria morrer. -Paul para de falar, prende a respiração por um tempo, depois solta o ar, e volta a falar. - Quando cheguei no quarto do seu irmão, ele dormia descoberto, estava todo jogado na cama, então o cobri, e lhe dei um beijo... Kate, nada foi tão difícil quando ter que deixar vocês... nada. Não tem um segundo que eu não pare para pensar, como seria minha vida se eu tivesse ficado. Provavelmente não carregaria tanta culpa, seria menos amarga... 
-Pai... -Falo tão baixo que quase não se ouve. Paul me olha com os olhos arregalados.
-Do que você me chamou? 
-De pai. 
-Kate... - Ele me abraça, e começa a chorar, me deixando completamente sem reação. - Não sabe o quanto esperei para escultar você me chamar de pai novamente. - Fala entre soluços.
-Isso não muda muita coisa. -  Tento me soltar dos seus braços. - Aquela feria não se cicatrizou, ainda sinto vontade de vomitar toda vez que olho para você... Te chamar de pai, é a única coisa que consigo fazer por enquanto.
-Sim, eu sei. Não vou lhe cobrar nada. - Diz limpando o rosto. - Mas pra mim, já é um enorme passo ouvir sua voz ao dizer pai. Um triunfo e tanto. 

                                                                            ** 

Ficamos conversando por algum tempo, papai está contando como foi toda a trajetória da banda, como foi difícil chegar onde estão agora. Depois entramos no assunto dos meus estudos.
-O que? Você está cursando Letras? Mas e Música? - Paul me olha incrédulo.
- Bem... Estava fora de cogitação fazer música... 
-Por que? 
Fico vermelha, e um pouco irritada. Como ele não sabe a resposta? Meu estômago doe.
-Ora, você nos deixou. Eu simplesmente, não conseguia voltar a tocar qualquer que fosse o instrumento, tudo me lembrava você e se tornava uma tortura. Mamãe até tentou me colocar com um novo professor, fiz terapia, mas... não dava, era simples assim... não dava. - Olho para o chão, mas percebo que Paul está me encarando.
-Sinto muito, Kate... Não imaginava que ir embora, fosse causar tantos danos... 
-Hum.. -Não conseguia dizer mais nada. Meu estômago não estava contribuindo.
-Tive uma ideia! - Paul fala levando do banco. - Vou começar a te dar aulas, de guitarra e piano. Assim quem sabe, ano que vem você possa tentar cursar Música, em Nova York, na Universidade Juilliard. O que acha? - Ele me olha esperançoso. Levo um susto com tamanha ideia.
-Como é? Na Juilliard? Não vou consegui passar lá. E outra, voltar a ter aulas com você? Acho que não dá... É muito repentino. E você tem que voltar pra França.
-Já está na hora da banda tirar umas férias. Eu ficaria em Chicago te ensinado, depois você treinaria só, e quando eu puder, venho ver como está o treinamento... Vai ser fácil, você toca maravilhosamente. Me deixe fazer algo por você, Kate... Preciso me redimir... Letras não é pra você. 
Não sei o que responder, é muita coisa pra pensar. Desistir de Letras, voltar a ter aulas com meu pai, a possibilidade da Juilliard. Acho que vou surtar.
-Ok... - Sai da minha boca sem que eu consiga segurar. Paul abre um sorriso, pega o celular e disca um número.
-Amos. Vamos tirar férias. 

                                                                          **

Paul me deixa em frente ao prédio, marcamos de amanhã de tarde nos encontrarmos. Quando entro no apartamento, dou de cara com Laura na cozinha, fazendo macarronada, e é então que paraliso, Abel está sentado de frente ao balcão sorrindo. Fico parada, e eles olham para mim como se eu fosse uma assombração.
-Kate! - Laura grita, e sai correndo para me abraçar. - Me conta como foi com o seu pai? - Olho para Abel por cima dos ombros de L. Ele está prestando atenção a cada movimento que faço.
- Oi Kate... - Fala, e percebo seu sorriso forçado.
-Ah é! Encontrei o Abel na rua... ele veio me pedir desculpa pelo mal entendido da festa... nós dois estávamos bêbados... - Laura responde envergonhada.
-Mal entendido? - Pergunto seca. Me sinto irritada só de olhar para ele. - Como beijar outra pessoa, pode ser um mal entendido? 
-Ah Kate, deixa disso... Tá tudo bem, era só uma festa. - Laura parece nervosa.
- Você tem razão... Por isso vim me desculpar, não devia ter feito o que fiz. - Abel parece desanimado. - Acho que já tá na minha hora. Não quero causar confusão, sei que você não gosta de mim Kate, procurarei ficar longe. - Diz ao mesmo tempo que se levanta da mesa.
-O que? Já vai? Não Abel, fique. A Kate não te odeia, foi só um mal entendido. - Responde L as pressas. Então olha para mim, com suplicas no olhar.
Solto um suspiro. - É Abel, não seja tolo. Não deve ir embora só porque te odeio. 
-Kate! - Laura me repreende irritada.
-Ok, desculpa. - Olho para Abel, que me lança um olhar cabisbaixo. - Fique, tá? Só fique. 
Abel muda de humor da hora, é tão rápido que até me assusta. Ele volta a abrir aquele sorriso de ponta a ponta, me tirando o folego.
- Já que insiste, tenho o maior prazer de ficar. 

sábado, 6 de setembro de 2014

Meu Arco-Íris Particular

Estou aderindo hoje, o Arco-íris feito de livros. Trouxe esses sete, que são alguns dos que eu mais gosto. Tive muitos problemas para escolher, já que fiquei em dúvida em qual livro iria para o meu arco-íris, mas acho que ficou legal :)


#Livro1: Cidades de Papel by John Green. O livro é interessante, assim como todos os outros trabalhos do autor, conta a história de Quentin Jacobsen, que tem um lance de infância com Margo Roth. Com o passar do tempo, eles perdem o contato, mesmo morando na mesma rua. Até que um dia Margo foge de casa, mas deixa várias pistas de sua localização, pistas que Quentin segue a risca. O garoto, que conta com a ajuda dos amigos, decide no dia da formatura viajar atrás de Margo. É um livro muito legal, engraçado, envolve todas as complicações que só quem é (ou já foi) adolescente sabe. Mistérios estão sempre presentes, e claro, muitos romances.

#Livro2: Toda Poesia by Paulo Leminski. Recheado de poemas, um mais divertido que o outro. Um mais bonito que o outro. O livro reúne todas as poesias já publicadas pelo autor. Vale a pena ler. ;)

#Livro3: O Mundo de Sofia by Jostein Gaarder. Este é, de fato, um dos melhores livros que já li. História vivida por Sofia, que em certa manhã, encontra em sua caixa de correio, um bilhete anônimo, com a seguinte pergunta: "Quem é você?". Além disso, Sofia passa a receber também postais de um Major do Líbano, que manda cartas para sua filha, Hilde Knag, o problema é que Sofia não faz a menor ideia de quem seja essa Hilde. Aparece na história também, um professor de filosofia, que se encarrega de ensinar para Sofia, o mundo filosófico, através de cartas. Na trama surge romances, em planos distinto. Bom, já deu pra perceber que O Mundo de Sofia é mesmo fascinante. <3

#Livro4: Quem é você, Alasca? by John Green. Como já comentei, esse autor é incrível, neste livro ele conta a história de Miles Halter, adolescente apaixonado por últimas palavras, que decide se mudar para uma nova escola, onde passa a viver. Miles busca uma resposta para seu, como dito por um poeta, "Grande Talvez". Muita coisa acontece em sua nova escola, até a amizade com a conturbada Alasca Young, por quem Miles se apaixona. Esse livro mostra, como a vida de uma pessoa pode se tornar impactante para outra. E como estamos todos em busca do nosso "Grande Talvez".

#Livro5: A culpa é das Estrelas by John Green. Pois é, não me canso desse autor, mais uma vez ele se mostra presente na minha lista. A Culpa é das Estrelas, se tornou seu maior sucesso. Também conhecido como ACEDE, conta a história de Hazel Grace Lancaster, uma adolescente com câncer, que conhece Augustus Waters, que também tem câncer. Os dois vivem juntos suas últimas aventuras, e um lindo romance surge. Lindo e encorajador, são umas das suas características. Provavelmente a maioria aqui já leu, mas quem ainda não teve o prazer de desfrutar deste enredo maravilhoso, aconselho que o faça.

#Livro6: Deixe a Neve Cair by John Green, Maureen Johnson, e Lauren Myracle. Um livro que mostra três histórias diferentes, mas que estão interligadas. A história mostra como, uma noite de natal e uma tempestade de neve, transformam as vidas de vários personagens. Três contos super engraçados, e lógico, super românticos.

#Livro7: Esse foi o meu último livro do arco-íris. O Castelo nos Pirineus by Jostein Gaarder. Solrun e Steinn, que foram um dia namorados, se reencontram depois de trinta anos, e começam a trocar e-mails, na tentativa de entender o que deu de errado no passado. Cada um tem uma concepção diferente da vida, Steinn acredita na ciência, e Solrun na espiritualidade. Mas além de todas as diferenças, um lindo amor brota entre os dois. E não podendo faltar, o autor introduz no livro, grandes questões da filosofia.

Bom, espero que vocês tenham gostado, e se ainda não leram algum destes livros, sugiro que leiam, pois todas as histórias são super legais, e divertidas.
Comentem o que acharam, e escrevam quais livros fariam parte do seu arco-íris. ;)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 4 (parte 1) - Ligação Indesejada

- Pai?! Você acha isso?! Pois saiba que não é mais. Deixou de ser a muito tempo! - Começo a chorar.
- Pare com isso, nunca vou deixar de ser seu pai ou do Felipe. Você tem que me ouvir, chegou a hora de crescer Bianca e enfrentar os fatos. - Ele fala tão calmamente que me da náuseas.
- Já cresci o suficiente para enxergar o que você fez! - Começo a gritar, lágrimas não param de rolar pelo meu rosto. - Você nos deixou! Me deixou! Então, vê se me deixa em paz!
Escuto sua respiração.
- Bia... Eu não queria ter te deixado, mas eu precisava. Tente entender, por favo. Eu amo você e seu irmão.
- Pare com isso... - Falo trincando os dentes - Você só ama a si mesmo.
- Não Bia, eu sempre amei vocês. - Ele da uma pausa. - De qualquer forma estarei no Hotel The Willows, ficarei até sexta. Venha, ok? Agora tenho que desligar. - Solta o ar e depois inspira - Bianca... Me perdoe... - Então desliga.
Deixo o celular cair, deito na cama como se fosse um feto encolhido no útero da minha mãe e continuo chorando. É tão profundo que parece que nunca mais vai acabar. Como ele se atreve me ligar e dizer todas essas coisas? Ele espera que eu o perdoe? Só pode ser brincadeira. Ele estragou tudo e não tem volta. Então penso em Abel e desejo com todas minhas forças que ele entre pela porta do meu quarto e fique comigo. Eu deveria ter ido, pelo menos não estaria agora aqui me sentindo tão sozinha e frágil. Fico ali, até cair no sono profundo.


                                                                            ***


Acordo com L em cima de mim, a luz do quarto está acesa, o que ofusca um pouco a minha visão.
- Acorda B! - Laura está com um hálito de bebida muito forte.
- Que horas são? - Pergunto desnorteada.
- Não faço a menor ideia! - L começa a rir.
- Você tá bêbada?
- O que você acha? - Fala com deboche.
- Saia de cima de mim.
- Ok, ok. - Laura está mais contente que o normal. - Não vai me perguntar o que aconteceu?
- O que aconteceu? Usou droga?
- Não! - L faz uma cara de ofendida. - Eu e o Abel nos beijamos! - No momento que diz começa a saltar de joelhos na cama.
 Fico paralisada, Laura me encara esperando uma resposta, toda sorridente.
- Ah é? - Agora vem a pontada no peito.
- Você só vai dizer isso? - É a única coisa que consigo falar, penso comigo.
- Desculpa, é que estou meia sonolenta.
- Tudo bem! Mas, não é incrível? Eu já estava afim dele desda cafeteria e hoje finalmente ele pareceu me notar!
- É realmente incrível... - Digo tentando digerir tudo.
- Foi o que eu disse! Hahaha, estou tão feliz!
- Posso ver. - Mordo o lábio. - Laura, preciso dormi - E não posso continuar escutando isso, pensei comigo.
- Tudo bem, vou deixar você voltar pro seu sono de princesa. - L me da um beijo na bochecha e salta da cama. Antes de sair, se vira e me olha:
- Bia...
- O que? - Não tiro os olhos do chão.
- Acho que estou mesmo gostando dele. - A encaro e a vejo encolhendo os ombros.
Nunca vi Laura assim, é como se estivesse apaixonada.
- Que bom L, boa noite... - Tento forçar meus lábios a sorrirem.
- Boa noite, B!


                                                                             ***


Se passaram quatro dias desda conversa com Laura, não lhe disse que meu pai tinha ligado, tentava esquecer isso o máximo que podia. Também evitava passar na frente do café, não estava pronta para encontrar Abel. E tentava ao máximo evitar qualquer assunto sobre ele, o que não adiantou muito, já que outro dia Laura me disse que Abel não queria falar com ela, me pegando de surpresa.
- Ele tá me evitando.
- Do que você etá falando? - Levanto a cabeça do livro que estava lindo e a encaro.
- De quem pode ser?! Abel!
Levanto a sobrancelha surpresa.
- Como você sabe disso?
- Quando vou no café ele não olha pra mim, coloca outra pessoa pra atender, tento ligar pra ele mas sempre desliga! Não sei qual é o problema dele! Naquela noite ele me disse que precisava me beijar e eu pensei que ele também estava super afim de mim... - L fica olhando para as mãos.
- Ele só deve está nervoso. Vai ver ele não nunca namorou. - Tento anima-la, mas rezo para que esse consolo seja suficiente para encerrar o assunto. Me sinto atordoada toda vez que imagino os dois juntos.
- Até parece. - Laura solta um sorriso irônico. - Na festa, várias garotas me disseram que ele é o mais desejado e que já tinha ficado com a maioria. Aparentemente ele bebe muito e depois sai pegando geral. - L para e me encara, triste. - Eu só fui mais uma.
Fico triste por ela e toda tristeza dentro de mim vai virando amargura. Nunca imaginei que Abel seria esse tipo de garoto, que não se importa com sentimentos dos outros. Já estou farta de pessoas que só se importam consigo mesmas.
- Não diga isso! Esqueça esse garoto, você sempre pôde escolher o cara que queria, não é diferente agora. - Sou positiva.
- Claro que sim! Claro que é diferente agora! Eu quero o Abel e aparentemente ele só queria uma diversão por uma noite!
- Só tente esquece-lo, ok?
- Que seja...
- Laura.
- O que é? - Ela olha pra mim. E eu prendo a respiração.
- Meu pai me ligou... - Mudo de assunto drasticamente.
- Sério?! Quando? - Ela parece surpresa.
Dou de ombros.
- Na noite que você e o Abel saíram...
- Como assim? Mas já faz quatro dias! Por que você não me contou?
- Porque não faz diferença pra mim.
- Não seja tola! Claro que faz, ele é o seu pai.
- Ele já foi um dia, não é mais! - Sinto uma irritação aqui dentro. - E agora eu só quero esquecer que ele ligou ou que ele existe.
- O que ele queria? - Ela está curiosa.
Me sinto péssima quando lembro da nossa conversa, meus olhos enchem de lágrima. Não posso chorar, não mais. Respiro fundo.
- Queria me ver...
- E como isso aconteceria? - Laura cruza os braços na frente do corpo.
- Laura, ele tá aqui.
- Em Chicago?! - L toma um susto. Balanço a cabeça confirmando. - E você vai vê-lo?
Sinto meu rosto molhado.
- Não consigo... Não dá... - Droga! As lágrimas saíram.
- B, eu sei que você não gosta de falar sobre ele, mas talvez esse seja o momento certo para você dizer tudo aquilo que tá ai dentro.
Eu sei que L está certa, mas só de imaginar olhar pra ele depois de tanto tempo, sinto como se eu não fosse conseguir.
- Quem sabe... talvez eu vá... - Digo enxugando meu rosto, não quero mais falar sobre isso.
- Espero que você vá e talvez só assim consiga viver mais leve. - Laura me lança um sorriso sincero.
- Talvez...
 Vejo Laura se levantando do sofá e pegando suas botas.
- Tenho que sair, agora. - Ela beija minha cabeça e sorrir - Você vai ficar bem? - Concordo com balançando a cabeça. Ela sorrir.


      Mais tarde decido andar até a Universidade para usar a biblioteca. Caminho pelas ruas, carrego minha mochila nas costas, com cadernos e livros. Uso uma camiseta vermelha e prendi meu cabelo em um "rabo de cavalo".
- Bianca! - Alguém grita meu nome.
Me viro e vejo Abel vindo correndo em minha direção.
- Hey! - Quando me alcança, para e coloca as mãos nos joelhos, respirando muito rápido. Parece até que correu meia maratona. Fico olhando para ele sem saber o que dizer. Estou séria.
- Q-que bom que eu te encontrei, quero falar com você já tem um tempo, mas como sempre, nunca te encontro na universidade. - Abel levanta e sorrir.
- Oi Abel. Olha, não quero ser grossa mas eu estava indo neste exato momento para a biblioteca.
- Sério? Tudo bem, eu te acompanho. - Começamos caminhar lado a lado.
- O que você queria comigo? - Digo sem desviar meu olhar do chão.
- Ah! Já tinha esquecido. - Abel sorrir e coça a cabeça. - Sabe aquele dia da festa?
- Sei... - Meu coração acelera de repente. É sobre isso que ele quer falar?
- Então... eu bebi muito, muito mesmo - Ele para e me olha de relance. - ...e acabei beijando sua amiga.
Olho pra ele, vejo que está de olhos fechados como se esperasse que eu começasse a gritar.
- Eu sei. - Responde e Abel me olha surpreso, depois começa a ficar vermelho.
- S-sabe? - Diz nervoso.
- Laura me contou. Ela tá bem chateada com você por estar evitando-a. - Tento parecer neutra. Não quero que ele perceba nenhuma reação minha. Não quero que ele pense que me importo, por mais que dentro de mim meu estômago esteja do avesso.
- Não queria ter feito isso com ela - Abel encolhe os ombros - mas foi um erro, eu estava muito bêbado e triste também... - Agora ele já não olha mais para mim, está encarando o chão. 
- Você beijou minha amiga porque estava "muito bêbado" e "triste"? - Falo friamente.
Ele me olha o um olhar fundo e triste, mas isso não me afeta.
- Sei que não foi legal e que pisei na bola, mas não estava nos meus melhores dias e ela se atirava o tempo todo pra cima de mim. Não consegui me conter.
A forma como ele descreve tudo me faz imaginar e a raiva vai me possuindo.
- Ela gosta mesmo de você Abel, é por isso que estava se atirando! - Começo a gesticular com as mão.
- Mas eu gosto de outra garota...
Não espero ele terminar a frase, bufo e o encaro.
- Essa é a coisa mais baixa que alguém pode fazer. Não se controlar, usar a bebida como desculpa e brinca com os sentimentos dos outros! Depois joga a velha desculpa do "outra garota". Eu realmente tenho pena dessa outra garota! Não sabe quem é você de verdade! - Quando me dou conta estou gritando. Abel me cabisbaixo, como se eu tivesse o ferido.
- Bia, eu sei que foi errado...
- Não Abel, você não sabe! E eu realmente gostaria de ir sozinha para a biblioteca. - Paro de repente no meio do caminho. Abel me olha por um tempo depois balança a cabeça, volto a andar em direção a universidade e o deixo parado no meio da calçada. Quando olho para trás, vejo que Abel está me encarando. Ando mais rápido.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 3 - Um Cão Chamado, Max.

Já se passaram duas semana desde que começou as aulas. Laura não para em casa, está cheia de amigos, vive saindo para festas. Até que me chamava no começo, mas neguei tanto que um dia ela simplesmente parou de perguntar. Agora nosso contato se resume a "Oi! Tô saindo!", ou "Desculpa Kate, tô sem tempo pra conversar agora. A noite a gente se fala, ok?" , mas é claro que não nos falamos a noite, digamos que sou uma pessoa diurna, e ela noturna, assim nossos horários nunca se batem.
Fico mais tempo no meu quarto escrevendo, do quem em qualquer outro canto. Tenho trabalhado no projeto da aula de Teoria Universal da Literatura, com o professor Collin. O esquema é escrever uma história na visão de um cachorro, só que o problema é que tenho certos bloqueios ao escrever sobre animais, quanto mais na visão deles. Então, já estou a três dias parada no primeiro paragrafo, toda vez que me atrevo a escrever o segundo, tudo sai um desastre, e só tenho mais dois dias.

Depois de ficar mais duas horas sentada na frente do computador e não conseguir nenhum progresso, decido sair para comprar alguma coisa pra comer. Coloco o casaco que tem um gato bordado nas costas, um gato amarelo, brincando com um pouco de lã. Passo pela sala em direção a porta, e paro olhando para a cozinha escura, sem Laura aqui ela se torna solitária e triste com tudo no seu devido lugar, limpo.

Ando pela rua atrás de alguma lojinha de doces ou de comida japonesa, quando me deparo em frente ao Smell of Coffee, já é noite e faz frio, lá dentro tudo está tão iluminado e aconchegante que resolvo entrar para tomar um café. Quando entro, vejo  Abel atrás do balcão servindo os clientes, ele está tão focado nos afazeres que nem me nota parada na sua frente.
- Oi? É... eu gostaria de um café com creme de laranja.
Abel ao escutar minha voz olha rápido para cima e quando me ver abre aquele grande sorriso de ponta a ponta, aquele sorriso que me deixa vermelha.
- Olá, Bianca! Que surpresa, faz tempo que não te vejo aqui e também não te encontrei na Universidade...
- Não sabia que estava me procurando. - Percebo que Abel fica vermelho.
- Hahaha, na verdade procurei mesmo, queria te convidar pra uma festa que vai ter na casa de um amigo, toda galera da universidade vai. E eu vi sua amiga, Laura, nas outras festas, pensei que, talvez, você quisesse ir nessa...
Fico olhando para seus olhos azuis que piscam rápido demais, seu cabelo preto continua todo bagunçado, ele esbanja um sorrido de matar qualquer garota. Prendo a respiração. Ele está mesmo me convidando pra sair? Começo a ficar nervosa, mordo meu lábio de baixo, Abel ainda me olha esperando uma resposta.
- Hum...é... acho que não vai dá. - Falo olhando para o chão imediatamente, estou tão nervosa que não consigo encara-lo.
- Sério?! - Sinto o desapontamento na sua voz - Mas vai ser legal, você pode conhecer gente nova e podemos passar mais tempo juntos. - A última palavra foi dita tão baixa que quase não a escutei. Abel dá um sorriso rápido, começa a coçar a cabeça, e vejo suas bochechas ficarem rosadas. Ele está nervoso? Com o que?
- Olha, desculpa, mas não dá mesmo. Tenho um projeto para entregar na segunda e tô meio perdida no que escrever.
- Ah é?! Se quiser eu posso ajudar. - Ele fala tão rápido que me deixa com mais vergonha.
- O que?! Não! valeu. Tô bem, só preciso me concentrar mais.
- Tem certeza? Porque eu sou bom escrevendo histórias. - Eu lanço um olhar de surpresa para ele. Abel escreve bem? Quando percebe meu olhar confuso, começa a se explicar.
- É que minha mãe escreve vários livros, - Ele dá de ombros - então, meio que eu aprendi algumas coisas...
Olho para ele paralisada, fico sem piscar, não sei o que responder, me sinto encurralada.
- Tá bom... - Respondo, e vejo Abel abrir aquele seu sorriso de novo.
- Ótimo! Você poderia me esperar aqui, meu turno acaba daqui a pouco.
- Mas e a sua festa? - Olho para ele sem entender. - Podemos escrever amanhã...
Abel bufa e volta a mexer no cabelo:
- Festas se tem o tempo todo, seu trabalho tem prazo.- Diz encolhendo o ombro.
Pisco algumas vezes rapidamente, inspiro e seguro o ar.
- Ok. Eu espero...
Abel sorri.
- Então deixa eu te fazer um café com creme de laranja, afinal tenho que terminar isso aqui rápido.


                                                                            ***


Abro a porta de casa e deixo Abel entrar primeiro. Ele olha impressionado pra sala.
- Nada de televisão? São perigosas demais? - Diz coçando o queixo e sua barba rala.
- Pois é, nunca se sabe quando podem atacar.
Abel me lança um sorriso.
- Ok, me diga onde está a mesa com a papelada para que eu possa começar o meu trabalho, que é te salvar de um zero.
Começo a rir
- Me salvar de um zero?
- Exatamente.
Achando graça de sua afirmação, vou andando em direção ao quarto. Abel vem atrás de mim.
- Nosso primeiro dia e já vou conhecer seu quarto? Tente ser menos atirada. - Ele está rindo, achando graça da minha reação.
- E você, tente ser menos babaca. - Atiro seca, mas também constrangida.
- Ei, tô brincando. Na verdade estou muito feliz de está aqui.
- Ah é? - levanto uma sobrancelha.
- Porque isso quer dizer que seremos amigos, né? - Ele da de ombros.
Paro por um instante na frente na porta do meu quarto, eu não tinha pensando nisso. Amigos... eu e Abel? O cara gato da cafeteria? E já estou levando-o para meu quarto? Como isso foi acontecer?
Não importa, balanço a cabeça para afastar esses pensamentos, ele vai me ajudar com a redação e é só isso.
Entro no quarto e acendo a luz, tudo agora está em seu devido lugar, as roupas no armário, prendi algumas fotos minhas com a minha mãe no painel, fotos na praia, outra no cinema, no museu, fazendo careta em quanto tomávamos sorvete e fotos com Laura na livraria. Em cima da cama tem uma colcha feita pela vovó, toda bordada. No chão continuava o tapete azul felpudo, e em cima da mesa estava meu notebook com os vários papeis das aulas.
- Gostei do seu quarto, é bem acolhedor. - Abel fala olhando para as fotos no painel. - Essa é sua mãe?
- É
- As fotos são de quando você morava no Brasil?
- Isso. - Respondo, mas já não estou prestando atenção no que Abel está fazendo, vou até a mesa e ligo o notebook. Olho para trás e vejo que Abel está deitado na minha cama, me sinto um pouco incomodada por ele está aqui.
- Então, me fale um pouco do que é esse seu trabalho. - Abel pergunta colocando as mão atrás da cabeça e cruzando as pernas. Aparentando total conforto.
- Uma história na visão de um cão. Qualquer história...
- Só isso? - Fala surpreso e eleva um pouco a sobrancelha.
- Só... - Fico vermelha - Não tenho tanta facilidade de escrever me pondo no lugar de um cachorro.
- Por que não? - Abel lenta interessado na minha resposta.
Respiro fundo, formulando o que responder. Solto o ar pela boca.
- Sentimentos.
- O que? - Abel parece não entender. Desisto e resolvo explicar.
- Não consigo escrever quando envolve sentimentos. Gosto de escrever fatos, momentos históricos. Criar algo demanda um envolvimento enorme, um envolvimento sentimental. Você coloca sua alma naquilo, seus sentimentos. Quando se escreve a fala de um personagem, tem que ser transmitido o sentimento dele, senão o leitor não acha graça no seu texto.
- Tá... E qual é o problema de fazer isso? - Abel continua sem entender, fazendo uma cara estranha como se eu tivesse lhe dito que o céu é rosa.
- O problema é que eu não tenho sentimentos. Sou vazia, não existe nada dentro de mim. Simplesmente não existe, simplesmente não consigo escrever. -Falo olhando para as minhas mãos entrelaçadas.
Abel parece irritado, e bufa:
- Qual é?! sério?! Isso não pode ser verdade. Consigo enxergar todos os seus sentimentos através dos seus olhos, no momento que você falou sobre o que é escrever, ou quando falou da sua mãe e do Brasil, eu vi todos os sentimentos. Eles estão ai, presentes no momento que você fala, pisca, respira. E isso, me deixa encantado! - Abel não tira os olhos de mim, de tal forma que também não consigo tirar meus olhos do dele.
Balanço a cabeça e me viro pro notebook, abro na área de trabalho, onde está escrito meu único paragrafo. Sinto Abel atrás de mim, ele começa a ler em voz alta.
- "Naquela noite de natal tudo parecia mágico, a casa toda piscava e tinha neve em todo lugar. Eu estava deitado no colo do John, curtindo o melhor carinho que já ganhei. Vejo as crianças brincando na neve, se jogando no chão e balançando seus braços e pernas, quando se levantam a imagem de um anjo se revela. 'É, meu velho Max, você definitivamente não deveria partir tão cedo', fala John, ainda olhando para as crianças. Este vai ser meu último natal, estou velho demais, ando muito cansado. Linda fez meu prato preferido, hambúrguer. Ela me entrega e me dá um beijo na cabeça, então vejo seus olhos se enxerem de lágrimas, 'Oh meu querido, vou sentir muito sua falta, meu companheiro, meu amigo...' ela sai chorando e John disfarçadamente, enxuga os olhos."

Quando Abel termina de ler, nós dois ficamos calados até que eu resolvo quebrar o silêncio.
- Viu? não sou boa quando o caso envolve sentimentos, me perco, não funciona...
- Você tá de brincadeira? Isso está ótimo, eu consigo sentir todo o amor dos donos pelo seu cachorro. Bia, você é boa, muito boa. - Fico olhando para o perfil de Abel, que continua olhando para a tela do notebook. Ele é lindo, seu nariz meio arrebitado na ponta, seu maxilar firme, sua barba rala, seu cabelo despenteado e seus olhos que brilham. Ele olha para mim, me pegando de surpresa, olho rapidamente para o notebook e vejo de lado que ele está sorrindo.
- Ok, vamos continuar da onde você parou.
- Ok...

                                                                            ***

Estamos escrevendo a quase uma, Abel está tentando criar o último paragrafo.
- Isso mesmo! Ele vai morrer no banco, enquanto John faz carinho em sua barriga. Ele simplesmente para de respirar. Consegue fazer isso? De forma que passe a tristeza do momento, mas também a paz do Max e o amor de todos?
- Acho que sim... - Começo a digitar, estou a todo vapor, meus dedos deslizam rapidamente de uma tecla para outra. Abel está sentando do meu lado olhando para a tela do notebook.
- Pronto. Está feito. - Paro de digitar e estalo os dedos. Abel limpa a garganta e começa a ler o paragrafo.
- "Nossa, como isso é bom! John não para de me acariciar. Linda foi brincar com as crianças na neve, todos estão bem, que sorte, não poderia ir em melhor hora. Minha respiração vai ficando mais devagar, 'Sabe Max, não se preocupe com a gente, você foi um excelente cão de guarda, um eterno amigo. Apenas me prometa que vai esperar por mim quando eu, velhinho for, venha me buscar. Agora descanse amigo.', escuto John falando e uma tranquilidade serena vai me acolhendo, dou um último suspiro, 'Sim, eu prometo...'."
- Tá um saco né? - Fecho os olhos e solto o ar.
- Eu gostei, tá nítido a amizade dos dois. Acho que nosso objetivo foi atingido com sucesso! - Abel levanta o polegar em sinal de ok e sorrir, tão perto de mim que posso sentir seu hálito, uma mistura de café, menta e cigarro.
Me levanto da cadeira e estico os braços para trás. Abel se levanta e olha no relógio.
- Olha! Ainda são onze! Dá tempo de pegarmos a festa.
- Abel... - Fico sem jeito e vermelha. - Não vou a festa. Mas é lógico que você deve ir.
Abel levanta um sobrancelha.
- O que? Por que você não vem? Seu trabalho tá feito e amanhã é sábado.
Olho para o chão, não é como se ele entendesse, afinal sempre está arrodeado de amigos, vai para todas as festas. Eu não sou assim. Permaneço calada.
- Bianca, eu quero que você vá, quero lhe conhecer mais e por isso vim até aqui, li seu texto, sei agora que você é meio fechada. Só quero ser seu amigo.
Ele me encara com seu olhar azul penetrante. Abel quer me conhecer "mais"? Por que?
- Bia, por favor...
De repente, vejo Laura entrar no quarto parecendo uma bala e para bem no lado de Abel. Fico surpresa com ela e dou um passo para trás. De onde ela veio?
- Laura?!
- Oi Bianca! - Ela me lança um sorriso mostrando todos os dentes. - Olha, se você não quiser ir a essa festa eu posso ir no seu lugar, faço companhia pro Abel. Acabei de chegar, mas adoraria dançar e beber um pouco.
Encaro L por um tempo, depois olho para o chão.
- Ok, acho melhor vocês irem logo.
Abel fecha a cara e faz um movimento juntando as sobrancelhas. Depois de um tempo solta uma longa respiração.
- Tudo bem. Nos vemos por aí. - Ele saí do quarto e Laura o segue, mas antes ela se vira para mim e diz baixinho:
- Me deseje sorte!
                                                                           ***
                                                   
Quando me vejo sozinha, sento na ponta da cama e sinto uma dor no estômago, uma vontade de vomitar. Por que eu não fui? Não sei a resposta. Escuto o meu celular vibrar, um número desconhecido aparece na tela. Deixo continuar vibrando. Quando para  demora pouco tempo e volta a vibrar. Então resolvo atender.
- Alô?
- Bianca... - Escuto a voz de um homem. - Bia, sou eu.
Meu coração para, meu estômago dá várias voltas, começo a me sentir tonta. Essa voz...
- Não desligue, por favor, Bia.
- O que você quer? - Sai mais como um sussurro.
- Estou em Chicago e sei que você mora aqui agora. Pensei que podíamos nos encontrar, preciso falar com você.
- Fale agora. - Sou fria.
- Não pelo telefone. Tem que ser pessoalmente. Por favor, Bia. Já faz muito tempo desda última vez que te vi.
- Isso mesmo! Já faz muito tempo. - Sinto uma raiva tomando meu corpo, meus olhos enchem de lágrimas. - Você não pode simplesmente aparecer e querer me encontrar!
- Lógico que posso, eu sou seu Pai.