terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tudo começou em Chicago: Cap 2 - Smell Of Coffee

  Acordo com calor, o sol entra pela janela e toca diretamente no meu rosto, coloco a mão na frente dos olhos na tentativa de enxergar alguma coisa. Pego o celular que está preso ao meu lado para ver a hora, 09:00h a.m. . Levanto da cama e tiro a blusa de manga comprida que minha mãe me fez vestir, abro a porta do quarto e atravesso pro banheiro. Em cima da pia tem um espelho redondo que me força olhar para meu rosto, a forma dele sempre fora redondo, meus olhos estavam inchados, eu parecia uma criança chorona. Respiro profundamente, resolvo tirar a roupa e entrar no chuveiro.

   Quando abro a mala, não tenho ideia por onde começar, são tantas roupas, livros, sapatos... Por fim, decido vestir uma calça jeans e uma camiseta branca com os dizeres, "Moça Feminista", minha mãe sempre participou de movimentos feministas e gostava de me carregar junto. Coloco um tênis, pego minha escova e abro o guarda roupa, escovo todo o cabelo, depois olho de novo para o meu reflexo. Tenho mais ou menos 1,65 de altura, cabelos castanhos claro, ondulados, que vão até os seios, olhos castanhos, com a pele meio bronzeada, provavelmente do último dia de praia que tive no Brasil. Coloco a cabeça para frente e balanço o cabelo, quando volto à olhar no espelho, meu visual está mais legal.
- É, acho que dá pro gasto. - Falo para mim mesma.
Saio do quarto e vou até a cozinha, o cheiro de ovos com bacon preenche a sala toda. Encontro Laura na cozinha, cantando e preparando o café da manhã. Ela me vê e abre um sorriso.
- Como foi a noite congelada no seu novo quarto? - Sorrindo maliciosamente.
- Muito agradável.
- Hum, "Moça Feminista"? - Diz lendo minha camiseta. - Você sabe que aqui ninguém vai conseguir entender essa sua camiseta escrita em português, né? - Laura me lança um olhar de quem tá achando muita graça.
- Bem, é uma pena. Você tá esperando visita ou é só compulsiva por comida mesmo? - Falo olhando em direção ao balcão cheio de pratos. Ovos, bacon, torradas, panquecas, suco de laranja e suco de uva.
- Se não gostou, não coma. Gosto de cozinhar, é meu passatempo preferido. - Ela faz um bico.
- Não seja tão grossa, lógico que vou comer um pouco de cada coisa, alias, estou faminta. - Sento em um  dos bancos do balcão, pego um prato e coloco tudo que está em meu alcance.


                                                                             ***

   Fico com a tarefa de lavar à louça, enquanto Laura resolve tomar banho. Quando termino tudo decido ligar para mamãe, prometi a ela que ligaria assim que desse.
- Alô? Bianca?!
- Oi mãe, tudo bem?
- Graças a Deus você ligou! Não aguentava mais de tanta ansiedade! Estou morrendo de saudade, como você está? E a Laura? Chegaram bem? E o apartamento é muito pequeno? Tem comida para vocês? E a universidade?! - Ela fala tudo as pressas, o que me faz revirar os olhos.
- Calma! Estou bem, a viagem foi ótima. O apê é suficiente para nós duas, a Laura fez um baita café da manhã, vamos na universidade só amanhã. Não fique nervosa, tá tudo indo as mil maravilhas.-Respondo tentando ser o mais firme possível.
- Que bom! Estou muito feliz por você, é só aquela saudade que não tem tamanho. Mas eu vou ficar bem, juro.
- Por favor mãe, fique mesmo, não quero ficar me preocupando com você, mesmo sabendo que é impossível.
- Eu sei querida. Olhe, entrou um cliente na loja, não posso falar mais. Me ligue quando puder. Estarei aguardando.
- Ok mãe. Te amo.
- Também te amo, e filha...
- O que?
Mamãe fica em silêncio, e começo a me sentir preocupada.
- Mãe? O que foi?
- ... seu pai ligou querendo noticias de você. - Meu coração para, tudo em minha volta fica em câmera lenta. Consigo escutar a respiração cautelosa da minha mãe do outro lado. Meu pai? Balanço a cabeça e penso em algo para responder.
- Ok... Falo com você em breve.
- Bia...
- Beijos. - Desligo. Fico parada por um tempo.
Não consigo acreditar que depois desse tempo todo ele simplesmente resolve ter noticias. Sinto meus olhos enxerem de lágrimas, mas escuto a porta do quarto de Laura se abrir e tento enxuga-los o mais rápido possível.
- Hey gatinha! Pronta para bater pernas em Chicago? - Laura desfila com um enorme sorriso. Usa uma calça preta, botas pretas, uma camiseta branca e um casaco de coro vermelho. Seu cabelo ruivo cacheado está preso em um coque em cima da cabeça. Ela usa lápis preto nos olhos azuis e um gloss labial.
- Claro.
Pego o meu casaco verde musgo e visto.
- Não esqueça da bolsa. - Laura joga uma bolsa preta em minha direção.

                                                                            ***
     Estamos andando pelas ruas e acho gostoso o vendo frio batendo no meu rosto. Meus olhos param em uma criança que aparentemente está tentando subir nas costas do pai. Por que ele ligou?
 - Bia! Olha que linda essa cafeteria! - Laura solta um gritinho e me puxa para dentro da "Smell Of Coffee", uma cafeteria enorme que fica na esquina da nossa rua.
Ao entrar noto que as paredes são feitas de tijolos, por todos os lados existem mesas com bancos verdes e o cheiro de café fresquinho toma conta da cafeteria. As mesas são todas ocupadas por grupos de pessoas e em muitas vezes casais apaixonados.
- Que lindo! - Laura diz eufórica.
- Realmente. - Admiro levantando minha cabeça para poder ver o lustre pendurado em cima de nós.
- B, você poderia pedir alguma coisa? Tenho que ir ao banheiro, volto rápido.
- Mas acabamos de sair de casa. - Quando viro, percebo que ela se foi. - Aaah. Tudo bem. - Resmungo.Vou até o balcão olhar o menu.
- Bom dia senhorita, qual será o pedido? - Quando olho para frente, vejo atrás do balcão um rapaz alto, magro, com ombros pontudos, cabelo preto todo assanhado que chega na orelha, olhos azuis; usa uma blusa de manga comprida branca e por cima uma camiseta preta, do lado esquerdo do peito um crachá escrito "Abel". Ele ostenta no rosto um enorme sorriso de uma ponta à outra.
- C-c-capuccino, quer dizer,  café preto mesmo, na verdade acho que vai ser dois capuccinos... -Percebo que o rapaz está achando graça, e sinto minhas ficando vermelhas.
- Posso dar uma dica? - Sussurra.
- Pode... - Digo, ainda vermelha.
- O café com canela e creme de laranja é o melhor! Posso lhe fazer dois?
- Ok. - Por algum motivo esse garoto me deixa nervosa.
 Ainda achando graça, Abel pega duas canecas e vai preparar o café. Vejo Laura andando em minha direção, quando chega perto de mim coloca o braço no meu ombro e pergunta feliz:
- E ai? Escolheu alguma coisa? Estou morta de sede, e esse cheirinho me abre o apetite.
- Você é uma morta de fome. E sim, já escolhi o café, na verdade foi o cara do balcão que deu a dica. Canela com laranja, eu acho. Parece ser o melhor. - Olho para meus dedos.
- Ótimo! A parti de agora só quero "O melhor". - Laura abre um enorme sorriso.
- Aqui está, dois cafés com canela e creme de laranja. Caprichei especialmente neles. - Abel me entrega as caneca e me lança uma piscadinha.
Não deixo de notar a cara de Laura, que fica de boca aberta quando o vê.
-V-valeu. - Respondo meio sem graça. Pego as canecas e arrasto L para uma mesa perto de uma janela, mas não conseguimos sair do campo de visão do garoto.
- Quem era aquele gato? Sério mesmo, que cara lindo! - Laura abre bem os olhos e fica empolgada, como se acabasse de abrir o melhor presente de natal, aquele que você espera o ano todo para ter. Finjo não ter notado.
- Era? não reparei. - Dou minha primeira golada.
- A não! Para! Você não vai me dizer que não o achou super gato?! - L me lança um olhar chocada.
- Não é isso, claro que o achei bonito, mas foi só isso: Um cara bonito em uma cafeteria.
- Nossa Kate, desse jeito você vai morrer solteira.
- Se eu tiver sorte... - Dou de ombros.

   Ficamos ali por mais ou menos uma hora, conversando e planejando o que iriamos fazer no nosso primeiro dia de aula. Laura sempre que tem chance cruza as pernas para chamar atenção do balconista e sorrir.
De repente vejo L ficar séria e sinto a presença de alguém atrás de mim.  Me viro e vejo o rapaz todo sorridente.
- Oi. E ai, gostaram do café?
- Adoramos! - L responde tão rápido que fica nítido seu nervosismo.
- É... estava muito bom. -Tento não parecer tão nervosa como L.
- Que bom, foi minha invenção. - Ele coloca a mão na cabeça e espalha ainda mais os fios do cabelo e continua com aquele sorriso bobo no rosto. A luz do sol que entra pela vitrine realça o brilho do cabelo e seus olhos azuis, e mais uma vez me sinto vermelha. - Sabe, o cheiro da canela e o frescor da laranja me fazem acreditar em dias melhores. Então toda vez que alguém parece meio perdido, eu faço esse café. - Abel faz uma cara de quem acabou de contar seu segredo mais precioso.
Um silêncio se estende entre a gente. Logo Abel quebra a barreira.
- Antes que eu me esqueça, me chamo Abel. - E estende a mão.
-  Eu sei. - Digo. Mas ao ver o rosto intrigado que ele faz, tento dar uma explicação. - O crachá.
- Ah, sim! Que tolice a minha. - Percebo que seu sorriso mudou, agora eh um sorriso meio constrangido.
- Bom, me chamo Bianca. - Estendo a mão e aperto a dele.
Abel enrubesce e então, sorrir.
- Vocês são daqui?
- Na verdade, somos brasileiras! - Laura, nervosa, responde rápido demais. - E eu me chamo Laura!
Abel parece surpreso: - Uau! Prazer em conhecer Laura. - Os dois apertão as mãos. - Que legal, nunca conheci nenhum brasileiro. São do Rio de Janeiro?
- Não, não. Somos de São Paulo.
- Ah sim! Já ouvi falar sobre São Paulo. Vocês vão estudar na UC?
- Isso. - Respondo. Abel abre aquele sorriso de ponta a ponta de novo.
- Que ótimo! Isso significa que nos veremos muito. Também estudo lá, faço música e vocês?
- Jornalismo! - Laura continua nervosa.
- Letras - Dessa vez, tento mostrar um sorriso.
- Uau, isso é muito legal. Vai virar escritora?
- Talvez...
Olho no relógio e percebo que já é tarte, levando da mesa e Laura me acompanha, viro para Abel.
- Temos que ir, mas foi bom conhecer você.
- Foi um enorme prazer conhecer vocês. - Abel responde com um sorriso meio sem graça. -Vejo vocês duas na universidade?
- Quem sabe, né? - Respondo.
Ele sorrir.
- Até breve Bianca e Laura.
- Até. - Digo rápido e me viro.
 Andamos na direção da saída, mas antes de passar pela porta olho para trás e vejo Abel acenando, dou um rápido sorriso e vou embora.

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