segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tudo Começou em Chicago: Cap 1 - Céu Estrelado

   Chicago era como um céu estrelado. A cidade toda dormia e se eu fechasse os olhos poderia até escutar a respiração de cada um, todos em seus pijamas quentinhos perdidos em sonhos. Era incrível como todo aquele cenário grande e vasto cabia em uma pequena janela do avião.
Um som sai pelo auto falante e uma aeromoça começa à falar:
- Senhores passageiros, sejam Bem-vindos a Chicago. Horário local, três horas da manhã,
temperatura de 9º graus; o céu está limpo e em poucos minutos estaremos pousando no Aeroporto Internacional de Chicago O'Hare. Pedimos que afivelem os cintos. É proibido o uso de qualquer aparelho eletrônico. Muito Obrigada. 

- Nossa! Graças a Deus chegamos! Ei, Bia! Tá acordada? - Laura grita me fazendo estremecer.
- Sim, estou acordada e não sou surda. - Coloco o dedo no ouvido e L fica constrangida. - Laura, tente ficar quieta, vivo tomando sustos com você.
- Ok, ok. Me desculpe, mas só eu que estou animada por finalmente, depois de doze horas presas em um avião, chegarmos em terra firme?
- Não Laura, estou feliz também e muito cansada, então vê se fica calma. - Coloco meus fones na tentativa de que L entenda que não estou afim de conversas, logo reparo que ela colocou os fones também e começa a batucar os joelhos com os dedos, seguindo o ritmo da música. 
   Ainda nem acredito que estamos viajando juntas para os Estados Unidos, parece que foi ontem que recebi o e-mail da Universidade de Chicago informando que eu tinha conseguido a bolsa de estudos e que seria uma honra me ter como aluna.

-  Ai meu Deus! Não acredito! MÃE! MÃE! RÁPIDO, VEM CÁ!
Minha mãe entra no quarto as pressas com aquela cara de quem acaba de subir 17 degraus correndo.
 - O que foi... você... tá... bem...?
- Mãe, consegui! Me aceitaram na universidade! Ganhei a bolsa! 
- O QUE?! CONSEGUIU?! Filha, isso é incrível! Eu sabia que você iria conseguir. Você estudou tanto, se esforçou muito. Meus parabéns! Venha cá.- Ela me abraça forte me deixando sem jeito, começo a sentir suas lágrimas no meu pescoço. 
- Mãe? Você tá chorando? 
- Me desculpe, estou muito feliz por você... mas... parece que foi ontem que eu entrei naquele hospital, grávida; agora você vai para a universidade no Estados Unidos... foi muito rápido. Seu irmão fez a mesma coisa, se mudou para França, claro que eu estou explodindo de felicidade por ter dois filhos maravilhoso... mas... eu só queria mais tempo.
- Mãe, não fica assim, estou tão aliviada de ter conseguido entrar nessa universidade, sinto como se finalmente minha vida começasse; Mas sempre que eu puder vou te ligar, mandarei vários e-mails, juro tirar fotos de todos os lugares e você pode me visitar, nas férias eu volto para o Brasil. Vai ficar tudo bem, você vai ficar bem, eu sempre estaremos aqui, ok?
- Ok... Agora você deveria ligar para sua amiga e saber se ela também conseguiu. - Mamãe fala ao enxugar as lágrimas. - Não sei por que vocês resolveram se inscrever na mesma universidade e tão longe...
- Já falamos sobre isso. Sempre sonhamos em cursar fora do país e finalmente chegou a hora.
- Tá bom. Ligue para ela, vou voltar para cozinha, o jantar sai em 10 minutos. - Me dar um beijo na cabeça e sai do quarto.
Não queria vê-la assim, também não queria deixa-lá sozinha, mas é o meu sonho que vai se realizar, eu tenho que seguir, tenho. 
Logo em seguida escuto meu celular vibrar, quando o pego leio na tela, Laura; atendo com um sorriso no rosto, o e-mail que recebi foi tão maravilhoso que não me dou ao direito de ficar triste. 
- Aqui quem fala é a nova aluna da Universidade de Chicago. - Falo com uma voz engraçada.
- SÉRIO? VOCÊ TAMBÉM?  Recebi o mesmo e-mail, estou dentro, ganhei a bolsa de estudos! É isso ai, nossa próxima parada, Universidade de Chicago! - Laura está eufórica, ri o tempo todo.
- Isso é melhor que o melhor!
- Chamamos isso de super, hiper, master, melhor! Viramos universitárias juntas! Eu nem posso acreditar! Minha mãe tá explodindo de alegria, tá ligando para todos os parentes, quer dar uma festa.  NÃO MÃE! NADA DE CHAMAR O ALEX!... - Laura grita - Desculpa, é que minha mãe aparentemente resolveu chamar todos os meus ex para mostrar a eles que nunca deveriam ter terminado comigo, isso é tão patético, como se eu me importasse com eles. - Laura sempre foi cheia de namorados, nunca lhe faltaram pretendentes, mas seus relacionamentos nunca passavam de quatro meses, ou ela terminava alegando desmotivação, ou eles terminavam por achar que ela não tinha mais interesse, o que sempre era verdade. O último tinha sido Alex, estudava na nossa mesma escola, o que facilitou o desinteresse repentino da L, ela nem podia mais olha-lo na sala de aula que começava sentir vontade de vomitar. 
- Olha, minha mãe tá descontrolada aqui ligando para todos, vou tentar para-lá, te ligo mais tarde ou amanhã, beijos!
- Ok, beijos. 
   
                                                                              ***

   Já tínhamos saído do aeroporto, pegamos um táxi e nos encontramos tentando passar o endereço para o motorista, apesar do nosso inglês ser bom, o taxista parecia não entender. 
Depois de um tempo, chegamos no prédio que iriamos morar. Era auto, de cor bege, com varandas enormes, tinha um lindo jardim na frente e ficava a três quarterões da universidade. Enquanto Laura pagava o táxi fui até a mala do carro tentar tirar nossas bagagens, comecei a tirar uma por uma, quatro malas da L e três minhas; nem sei como todas couberam nessa mala. 
- Ok, tenho a chave do apê, pronta para entrar? Vamos ter que chamar dois elevadores por causa de tantas malas. - Laura saca um chaveiro, com três chaves, do bolso de seu casaco. 
- Vamos fazer assim, - começo a gesticular com as duas mãos - você sobe primeiro levando algumas malas e já abrindo o apartamento, eu subo depois levando o restante. 
- Tudo bem, lembre-se que estamos no terceiro andar, número 42, ok?
- Beleza capitã! - respondo colocando uma mão na testa igual a um militar. 

                                                                             ***
   O apartamento é enorme, entramos direto em uma sala comprida toda mobiliada. No lado direto fica uma cozinha americana com um balcão, no lado esquerdo um enorme corredor com dois banheiros e dois quartos. A sala é vermelha com vários jarros de plantas, um sofá marrom, tapete cor de creme e sem nenhuma televisão. 
- Ele tirou mesmo à TV, né? - Pergunto ao perceber um vazio no meio da estante.
- Eu disse que ele iria tirar, para meu pai só vamos estudar e não precisamos de uma televisão que estrague nosso cérebro. - Respondeu L.
O apartamento era do seu pai, um mês antes ele veio fazer uma inspeção no apê que estava muito tempo sem uso e aproveitou para levar a televisão. Não reclamo muito, afinal foi uma sorte este apartamento pertencer ao Senhor Garcia, assim podemos economizar no aluguel. 
 - Ok girl, vamos decidir quem vai ficar com qual quarto. Como filha do dono serei a primeira a escolher.
- Nem vem! Você sempre quer pegar as melhores coisas, ou quartos. 
- B, entenda, eu posso. É simples assim. Não vamos discutir.
- Você tem alguma coisa contra um bom debate?  - Pergunto.
Laura fecha a cara e olha seria pra mim: - Claro que não, mas tento evita-ló quando sei onde vai dar.
- Ok, relaxe. - Me jogo no sofá e logo percebo como ele é macio e confortável. - São quatro da manhã, estou tão cansada que poderia dormi aqui mesmo, no sofá. Vai L, escolha logo o quarto que vai querer e eu fico com o que sobrar.
- Tudo bem então, você fica com o último quarto, o que tem aquela janela enorme que entra muita corrente de ar o tornando o mais frio do apartamento. - Laura sorri pondo a mão na cintura e fazendo uma pose de "Eu ganhei".
Dou um pulo do sofá e saiu correndo com minhas malas na mão em direção ao melhor quarto. Laura percebe meu intuito e corre na minha frente, dando gargalhadas, ela chega no quarto primeiro e fecha a porta, me deixando esbaforida no corredor.
- Ha Ha Ha! Bianca Delfino, a senhorita nunca vai conseguir ganhar de mim em uma corrida! - Laura grita, meio que rindo, meio que tentando recuperar o folego. Então sou condenada a ficar no último quarto.
O vento entrava por todas as brechas da janela, acendo a luz; logo em frente vejo à janela, era de fato enorme, não tinha cortina então pude ver toda à cidade, todas as luzes da cidade, era como ter minha própria árvore de natal em um lindo quadro natural; tento imaginar como seria o cenário quando fosse de manhã. Solto o ar que estava preso nos pulmões, não percebo que o segurava por tanto tempo. Olho para o lado e vejo uma cama de solteiro encostada na parede, um tapete redondo embaixo, ele era todo felpudo de um azul claro, o quarto era um azul meio escuro, mas não tanto, encaro a parede por um tempo e gosto dali.
- É, acho que gostei de você. - Digo para o quarto.
Embaixo da janela tem uma mesa de estudo feita de madeira escura e uma cadeira giratória, em cima da cama fica um painel preso à parede onde eu poderia colocar algumas fotos e papeis; Do lado oposto à cama um guarda-roupa feito também de madeira escura chama a minha atenção. Ao abrir o guarda-roupa, reparo que nas portas possuem espelhos dos dois lados.
Sento na cama depositando as malas bem nos meus pés, pego o celular no bolso e mando uma mensagem para mamãe, "Hey Mãe! Chegamos. Estamos no apartamento. Ligo pra você amanhã. Beijos."
Tiro meu tênis e as meias, deito na cama e apago. 

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