quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 6 (parte 2) - Primeiros Pesadelos

   Os dias passam tão rápido que mal me dou conta que já se passou um mês. Minha vida virou uma correria com todas as cobranças da universidade, não consigo parar em casa e vivo praticamente na biblioteca. Mas no final da tarde sempre vou ao café esperar Abel fechar a loja, depois ele me deixa em casa ou às vezes vamos até seu apartamento e ficamos conversando no sofá e muitas vezes nos beijamos.
   Nem acredito que estamos um mês juntos, e cada dia que se passa estou mais apaixonada por ele. A única coisa que me incomoda são suas saídas constantes, e o fato de todo final de semana ter que ir para a casa de seus pais, que fica em outra cidade. Logicamente  não reclamo, afinal de conta são os pais dele. Então às vezes aproveito sua ausência e ligo para minha mãe para saber como vão as coisa por lá, ela sempre parece estar ótima, o que me deixar muito feliz. Se não consigo falar com ela, fico sozinha em casa, já que agora Laura não fala mais comigo. Ela ficou com muita raiva quando tive que lhe contar sobre eu e o Abel:

- L, eu preciso falar com você. - Estou em pé na porta do seu quarto.
Laura parece não me ouvir , continua enfiada no guarda roupa jogando tudo que tem lá dentro para fora.
- L, preciso mesmo falar com você e tem que ser agora. - Encisto.
- Ai Kate, tem que ser agora mesmo? Porque tô super apressada, a Megan tá me esperando lá embaixo...
- Tem que ser agora - Falo, interrompendo-a.
Laura acha uma camiseta rosa sem estampa e veste, depois se vira para mim.
- O que foi Kate? - Responde chateada.
- Que tal a gente se sentar? - Vou andando até sua cama e sento. L me encara por um tempo, logo joga as mão para cima como se estivesse desistindo e senta na cama também.
- Pode falar, estou toda à ouvidos. - L fica me olhando esperando que eu comece a falar e eu começo a ficar muito nervosa.
Sinto que essa vai ser uma das conversas mais complicadas que já tivemos. Meu estômago embrulha e minha garganta dói.
- Fala Kate! - Laura abre mais os olhos. Então decido ir direto ao assunto.
- Eu e o Abel estamos juntos.
Fico esperando uma explosão da Laura mas simplesmente nada acontece, ela só permanece para me olhando. Então de repente seu olhar muda e sinto sua raiva me atingir por dentro. Laura da um salto da cama:
- Que porra é essa Kate?! - Ela está gritando e seu rosto fica vermelho. Sinto meus olhos encherem de lágrimas e minha garganta se fechar. - Fala Kate! Que merda é essa que você está me falando?!
- O Abel sempre foi afim de mim...
- Eu pensei que você o odiasse! - Levo um susto com a maneira que ela fala.
- Não! Q-quer dizer... - começo a gaguejar - ... a-acho que eu fiquei com raiva dele por ter te beijado. Acho que fiquei com ciúmes.
- Ciúmes?! Você está louca?! Eu gostava dele! Eu! E você sabe muito bem disso!
Começo a chorar, porque é verdade, eu sempre soube que L gostava do Abel e mesmo assim isso não me impediu que ficasse com ele. Me sinto uma péssima amiga. Com tantos outros garotos eu resolvi ficar logo com ele. Isso é uma droga!
- Me desculpe... - Falo baixinho, entre soluços. - Eu sinto muito.
- Mas que merda Kate! Pare de chorar! Sou eu quem está com o coração partido, foi a minha amiga que me traiu, não foi a sua! - Laura sai pela porta pisando forte, enquanto eu fico sentada na cama, sozinha, chorando.
Depois daquele dia Laura não trocava uma palavra comigo nem me olhava, só depois de duas semana começou a passar por mim e me cumprimentar. Agora ela me avisa se tem comida na geladeira, mas mesmo assim nada melhorou, sinto falta da minha melhor amiga e sinto ter estragado tudo. Sinto mesmo, Laura.
                                                                     ***
                                         
   Sou acordada por uma mão em meu ombro, levanto a cabeça assustada.
- Desculpa, mas aqui não é lugar para dormir. Se minha chefe descobre que você está dormindo aqui, provavelmente vai sobrar pra mim. - Uma garota com cabelos longos de cor castanho está parada na minha frente, ela sorrir constrangida. Olho em volta, estou na biblioteca da faculdade, devo ter dormido enquanto estudava para a prova de amanhã sobre a literatura francesa.
Esfrego os olhos e me alongo, sinto meu pescoço doer.
- Tudo bem, me desculpe. Estava muito cansada... - Começo a fechar todos os livros que estão abertos sobre a mesa.
- Marguerite Dura? - A garota pega um dos livros que estão em cima da mesa.
- Pois é. Prova amanhã.
"Muito cedo na minha vida ficou tarde demais." - Fala a garota, citando uma das obras da Marguerite.
- Você conhece O Amante ?
- Claro! - Ela dá uma risadinha contida. - Leio muito, e ela é uma das minhas autoras prediletas.
- Então você deve conhecer muito sobre a influência dela na literatura francesa...
- Conheço. - Ela fica me encarando sorridente - se quiser posso te ajudar... para a sua prova de amanhã... claro, se for esse o assunto.
Fico encarando-a, ela não para de sorrir mas não é nada extravagante na verdade, é bem tímida.
- Eu iria ficar muito agradecida.
- Ótimo! Meu nome é Mary. - Diz, esticando sua mão para me cumprimentar.
Aperto sua mão agradecida: - Kate.
- Kate, lindo nome.
- Obrigada. Então, você quer estudar aqui ou quer ir para minha casa?
- Oh! não, não, não... agora eu não posso. Meu turno termina em duas horas, se você puder esperar, quando eu terminar venho lhe ajudar.
- Ok. Por mim tudo bem. Vou ficar aqui lendo enquanto te espero.
- Certo. Só não durma mais. - Mary sorrir e sai perdendo-se no meio das pratilheiras.

                                                                         ***
-Oi. - Tenho que me concentrar para levantar minha cabeça, estou tão cansada que poderia dormi aqui mesmo.
Quando olho para cima, Mary está parada na minha frente.
- Oi. - Respondo.
- Desculpe a demora...
- Poxa, duas horas nunca demoraram tanto.
- Eu sei... Me desculpe. Se você não quiser estudar mais, eu entendo.
- Não, tudo bem. Minha prova é amanhã e eu preciso saber sobre esse assunto.
- Então você está na sala da Sra. Baumer? - Mary se senta na cadeira em minha frente.
- Isso. Como você sabe?
- Bem... - Percebo que seu rosto fica vermelho. - ... ela adora ensinar literatura francesa e principalmente, adora os livros da Marguerite Duras. Você é de que curso?
- Letras.
- Eu sou do Jornalismo. Tive que implorar para poder ter aulas com a Sra. Baumer.
- Ela é boa... Mary, podemos começar logo? É que já estou muito cansada... - Tento cortar o papo furado, não tenho paciência para isso.
- O-ok! Me desculpe.
Sinto por ter aparentado desinteressada, mas ultimamente não estou com muito ânimo.
- Que tal começarmos pela primeira filosofia dela?
- Acho uma ótima ideia.

   Ficamos estudando até a biblioteca fechar, estou muito cansada e o ato de abrir e fechar as pálpebras, consomem o pouco da energia que ainda me resta.
Mary me deixa na frente do meu prédio e depois vai embora. Quando saio do elevador vejo Abel sentado na porta, ele me olha e se levanta sorridente, já eu não consigo sorrir, minhas energias definitivamente se esgotaram.
- Você contou para Laura sobre a gente?
 Concordando com a cabeça.
- Então foi por isso que quando ela me viu, bateu a porta na minha cara... - Abel chega perto de mim e coloca o braço em cima do meu ombro.
- Hum... - É o único som que eu consigo fazer.
- Isso é cansaço demais?
- Hum...
- Que tal um banho?
- Hum...
Escuto Abel rindo, mas eu não dou bola, afinal estou morrendo de sono. Pego a chave e abro aporta, Laura provavelmente já está dormindo a essa hora. Levo Abel até meu quarto, na tentativa de fazer o mínimo de barulho possível. Entro no quarto e me jogo de barriga na cama.
Abel anda até o banheiro e posso escutar o chuveiro, depois ele volta e se abaixa do meu lado.
- Ei, preguiçosa... vamos tomar um banho. - Abel passa a mão pelo meu rosto, tirando o cabelo que cai sobre ele.
- Hum...
Abel rir. - Venha.
Ele me pega nos seus braços e me leva até o banheiro. Sento no vaso enquanto o vejo trancar a porta, tiro devagar a minha blusa e minha calça, vejo Abel fazendo o mesmo.
- Vamos, fique de costas.
Eu o obedeço porque não consigo pensar em mais nada. Abel tira meu sutiã e depois me lava para dentro do chuveiro, onde a água cai bem quentinha. Ele passa os dedos pelo meu cabelo e eu fecho os olhos.

   Depois de tomarmos banho, Abel me veste com um pijama, e juntos deitamos na cama.
- Kate, não posso deixar de observar que você está especialmente linda hoje.
- Hum...
Então a última coisa que sinto é seu beijo em minha testa, logo apago.

                                                                           ***
   Acordo com o sol em meu rosto, vejo Abel deitado ao meu lado, então decido sair da cama e vou até o banheiro, quando me olho no espelho levo um susto, meu rosto e meu cabelo estão horríveis. Fico desesperada, passo meus dedos pelo cabelo em uma tentativa frustrada de acalma-lo.
- Pra quê isso? - De repente escuto a voz de Abel atrás de mim, tomo um susto ainda maior. Ele está com o cabelo todo assanhado e sem a camisa, só com a calça, fica esfregando a mão no olho. Sua visão me deixa sem ar.
- Pra quê isso o que?! - Falo meio rápido demais deixando transparecer meu nervosismo.
- Não precisa ajeitar seu cabelo assim, você está linda.
Abel se aproxima de mim e me beija. Me derreto toda em seus braços.
- Dormiu bem? Você estava muito cansada ontem.
- Sim... - então eu lembro dele me carregando no braço e me dando um banho. - obrigada...
- Tudo bem. - responde beijando-me novamente. - Kate, precisamos conversar.
- Sobre o que?
- Hoje a noite vai ter uma festa lá no apê de um amigo, mas terei que sair mais cedo para pegar o ônibus.
- Vai pra casa de sua mãe de novo? - Me sinto meio triste, mas tento entendo.
- Pois é... também queria passar esse final de semana com você, mas minha mãe faz questão que eu esteja lá.
- Ok...
- Não fica assim... - Abel segura meu queixo, forçando-me a olha-lo nos olhos. - Quero que você venha comigo nessa festa de hoje.
- Mas eu tenho prova hoje. - Tento arrumar uma desculpa.
- Não tem problema eu te pego quando você terminar. Por favor? - Abel faz aquela cara de cachorro pidão e eu me derreto.
- Tá certo. - Reviro os olhos.
                                                                   ***

   Depois que termino a prova, encontro Abel na frente da universidade. Caminhamos juntos até a casa do seu amigo, já é noite e o lugar parece lotado.
Logo que entramos percebo que várias pessoas ficam nos encarando, não deixo de notar que muitas garotas sorridentes não param de olhar para o Abel, algumas até chamam por ele, mas Abel parece não perceber ou finge não notar. Isso faz com que eu comece a me sentir incomodada.

   Andamos até a varanda do apartamento onde encontramos vários amigos do Abel.
- E ai, Abel! Pensei que você não chegaria a tempo, a Lari...
- Oi Johnny! - Abel o interrompe. - Essa aqui é a Kate. Kate, Johnny.
- Oi. - Cumprimento baixinho.
- Ah! então essa é a tão famosa Kate ! - Não posso deixar de notar a sua enfatização. - Estávamos todos querendo conhecer você, o Abel não para de falar de como você é bonita, e agora vendo de perto, tenho que concorda com ele.
Johnny é um dos mais antigos amigos do Abel. Ele é alto e magro, tem o cabelo todo arrepiado para cima e os braços cheios de tatuagens.
- Abel nos disse que você toca. É verdade? - Todos que estão em volta da mesa me olham.
- Bem... toco um pouco.
- Nossa, que ótimo, porque essa festa está uma chatice. Pega meu violão ali. - Ele aponta para um violão marrom encostado na parede. - Tá meio velhinho, mas serve. Toque alguma coisa.
- Acho melhor não. - Começo a me sentir ansiosa.
- Toque Kate. - Abel fala e em seguida vai até o violão, trazendo-o para mim. - Toque alguma coisa para mim.
Fico segurando o violão, olhando todas as pessoas. A única vontade que tenho é de sair correndo.
- Ei Abel! Sente-se com a gente. - Uma garota loira o chama. Abel vai até ela e senta no meio do grupinho de garotas, todas sorridentes e que não param de alisar o cabelo dele.
Sinto uma ponta de ciúmes surgindo dentro de mim. É tão estranho, sinto vontade de gritar mas em vez disso decido cantar.
Sento em um baco de madeira, que está do lado de Johnny,  limpo a garganta e dou os primeiros toques no violão:
     
"Eu posso não te amar pra sempre
Mas enquanto houver estrelas sobre você
Você não precisa duvidar disso
Eu vou fazer você ter certeza disso
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Se você algum dia me abandonar
Embora a vida continue, acredite
O mundo não pode me mostrar nada
Então de que me adiantaria viver?
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Se você algum dia me abandonar
Bem, a vida continua, acredite
O mundo não pode me mostrar nada
Então de que me adiantaria viver?
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe
Só Deus sabe o que seria de mim sem você
Só Deus sabe o que seria de mim sem você"

Quando termino, percebo que ninguém estava prestando atenção, nem mesmo Abel, e aquilo me dar uma vontade de vomitar e uma vontade louca de chorar. Então, só coloco o violão no chão e vou embora.

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