- Pai?! Você acha isso?! Pois saiba que não é mais. Deixou de ser a muito tempo! - Começo a chorar.
- Pare com isso, nunca vou deixar de ser seu pai ou do Felipe. Você tem que me ouvir, chegou a hora de crescer Bianca e enfrentar os fatos. - Ele fala tão calmamente que me da náuseas.
- Já cresci o suficiente para enxergar o que você fez! - Começo a gritar, lágrimas não param de rolar pelo meu rosto. - Você nos deixou! Me deixou! Então, vê se me deixa em paz!
Escuto sua respiração.
- Bia... Eu não queria ter te deixado, mas eu precisava. Tente entender, por favo. Eu amo você e seu irmão.
- Pare com isso... - Falo trincando os dentes - Você só ama a si mesmo.
- Não Bia, eu sempre amei vocês. - Ele da uma pausa. - De qualquer forma estarei no Hotel The Willows, ficarei até sexta. Venha, ok? Agora tenho que desligar. - Solta o ar e depois inspira - Bianca... Me perdoe... - Então desliga.
Deixo o celular cair, deito na cama como se fosse um feto encolhido no útero da minha mãe e continuo chorando. É tão profundo que parece que nunca mais vai acabar. Como ele se atreve me ligar e dizer todas essas coisas? Ele espera que eu o perdoe? Só pode ser brincadeira. Ele estragou tudo e não tem volta. Então penso em Abel e desejo com todas minhas forças que ele entre pela porta do meu quarto e fique comigo. Eu deveria ter ido, pelo menos não estaria agora aqui me sentindo tão sozinha e frágil. Fico ali, até cair no sono profundo.
***
Acordo com L em cima de mim, a luz do quarto está acesa, o que ofusca um pouco a minha visão.
- Acorda B! - Laura está com um hálito de bebida muito forte.
- Que horas são? - Pergunto desnorteada.
- Não faço a menor ideia! - L começa a rir.
- Você tá bêbada?
- O que você acha? - Fala com deboche.
- Saia de cima de mim.
- Ok, ok. - Laura está mais contente que o normal. - Não vai me perguntar o que aconteceu?
- O que aconteceu? Usou droga?
- Não! - L faz uma cara de ofendida. - Eu e o Abel nos beijamos! - No momento que diz começa a saltar de joelhos na cama.
Fico paralisada, Laura me encara esperando uma resposta, toda sorridente.
- Ah é? - Agora vem a pontada no peito.
- Você só vai dizer isso? - É a única coisa que consigo falar, penso comigo.
- Desculpa, é que estou meia sonolenta.
- Tudo bem! Mas, não é incrível? Eu já estava afim dele desda cafeteria e hoje finalmente ele pareceu me notar!
- É realmente incrível... - Digo tentando digerir tudo.
- Foi o que eu disse! Hahaha, estou tão feliz!
- Posso ver. - Mordo o lábio. - Laura, preciso dormi - E não posso continuar escutando isso, pensei comigo.
- Tudo bem, vou deixar você voltar pro seu sono de princesa. - L me da um beijo na bochecha e salta da cama. Antes de sair, se vira e me olha:
- Bia...
- O que? - Não tiro os olhos do chão.
- Acho que estou mesmo gostando dele. - A encaro e a vejo encolhendo os ombros.
Nunca vi Laura assim, é como se estivesse apaixonada.
- Que bom L, boa noite... - Tento forçar meus lábios a sorrirem.
- Boa noite, B!
***
Se passaram quatro dias desda conversa com Laura, não lhe disse que meu pai tinha ligado, tentava esquecer isso o máximo que podia. Também evitava passar na frente do café, não estava pronta para encontrar Abel. E tentava ao máximo evitar qualquer assunto sobre ele, o que não adiantou muito, já que outro dia Laura me disse que Abel não queria falar com ela, me pegando de surpresa.
- Ele tá me evitando.
- Do que você etá falando? - Levanto a cabeça do livro que estava lindo e a encaro.
- De quem pode ser?! Abel!
Levanto a sobrancelha surpresa.
- Como você sabe disso?
- Quando vou no café ele não olha pra mim, coloca outra pessoa pra atender, tento ligar pra ele mas sempre desliga! Não sei qual é o problema dele! Naquela noite ele me disse que precisava me beijar e eu pensei que ele também estava super afim de mim... - L fica olhando para as mãos.
- Ele só deve está nervoso. Vai ver ele não nunca namorou. - Tento anima-la, mas rezo para que esse consolo seja suficiente para encerrar o assunto. Me sinto atordoada toda vez que imagino os dois juntos.
- Até parece. - Laura solta um sorriso irônico. - Na festa, várias garotas me disseram que ele é o mais desejado e que já tinha ficado com a maioria. Aparentemente ele bebe muito e depois sai pegando geral. - L para e me encara, triste. - Eu só fui mais uma.
Fico triste por ela e toda tristeza dentro de mim vai virando amargura. Nunca imaginei que Abel seria esse tipo de garoto, que não se importa com sentimentos dos outros. Já estou farta de pessoas que só se importam consigo mesmas.
- Não diga isso! Esqueça esse garoto, você sempre pôde escolher o cara que queria, não é diferente agora. - Sou positiva.
- Claro que sim! Claro que é diferente agora! Eu quero o Abel e aparentemente ele só queria uma diversão por uma noite!
- Só tente esquece-lo, ok?
- Que seja...
- Laura.
- O que é? - Ela olha pra mim. E eu prendo a respiração.
- Meu pai me ligou... - Mudo de assunto drasticamente.
- Sério?! Quando? - Ela parece surpresa.
Dou de ombros.
- Na noite que você e o Abel saíram...
- Como assim? Mas já faz quatro dias! Por que você não me contou?
- Porque não faz diferença pra mim.
- Não seja tola! Claro que faz, ele é o seu pai.
- Ele já foi um dia, não é mais! - Sinto uma irritação aqui dentro. - E agora eu só quero esquecer que ele ligou ou que ele existe.
- O que ele queria? - Ela está curiosa.
Me sinto péssima quando lembro da nossa conversa, meus olhos enchem de lágrima. Não posso chorar, não mais. Respiro fundo.
- Queria me ver...
- E como isso aconteceria? - Laura cruza os braços na frente do corpo.
- Laura, ele tá aqui.
- Em Chicago?! - L toma um susto. Balanço a cabeça confirmando. - E você vai vê-lo?
Sinto meu rosto molhado.
- Não consigo... Não dá... - Droga! As lágrimas saíram.
- B, eu sei que você não gosta de falar sobre ele, mas talvez esse seja o momento certo para você dizer tudo aquilo que tá ai dentro.
Eu sei que L está certa, mas só de imaginar olhar pra ele depois de tanto tempo, sinto como se eu não fosse conseguir.
- Quem sabe... talvez eu vá... - Digo enxugando meu rosto, não quero mais falar sobre isso.
- Espero que você vá e talvez só assim consiga viver mais leve. - Laura me lança um sorriso sincero.
- Talvez...
Vejo Laura se levantando do sofá e pegando suas botas.
- Tenho que sair, agora. - Ela beija minha cabeça e sorrir - Você vai ficar bem? - Concordo com balançando a cabeça. Ela sorrir.
Mais tarde decido andar até a Universidade para usar a biblioteca. Caminho pelas ruas, carrego minha mochila nas costas, com cadernos e livros. Uso uma camiseta vermelha e prendi meu cabelo em um "rabo de cavalo".
- Bianca! - Alguém grita meu nome.
Me viro e vejo Abel vindo correndo em minha direção.
- Hey! - Quando me alcança, para e coloca as mãos nos joelhos, respirando muito rápido. Parece até que correu meia maratona. Fico olhando para ele sem saber o que dizer. Estou séria.
- Q-que bom que eu te encontrei, quero falar com você já tem um tempo, mas como sempre, nunca te encontro na universidade. - Abel levanta e sorrir.
- Oi Abel. Olha, não quero ser grossa mas eu estava indo neste exato momento para a biblioteca.
- Sério? Tudo bem, eu te acompanho. - Começamos caminhar lado a lado.
- O que você queria comigo? - Digo sem desviar meu olhar do chão.
- Ah! Já tinha esquecido. - Abel sorrir e coça a cabeça. - Sabe aquele dia da festa?
- Sei... - Meu coração acelera de repente. É sobre isso que ele quer falar?
- Então... eu bebi muito, muito mesmo - Ele para e me olha de relance. - ...e acabei beijando sua amiga.
Olho pra ele, vejo que está de olhos fechados como se esperasse que eu começasse a gritar.
- Eu sei. - Responde e Abel me olha surpreso, depois começa a ficar vermelho.
- S-sabe? - Diz nervoso.
- Laura me contou. Ela tá bem chateada com você por estar evitando-a. - Tento parecer neutra. Não quero que ele perceba nenhuma reação minha. Não quero que ele pense que me importo, por mais que dentro de mim meu estômago esteja do avesso.
- Não queria ter feito isso com ela - Abel encolhe os ombros - mas foi um erro, eu estava muito bêbado e triste também... - Agora ele já não olha mais para mim, está encarando o chão.
- Você beijou minha amiga porque estava "muito bêbado" e "triste"? - Falo friamente.
Ele me olha o um olhar fundo e triste, mas isso não me afeta.
- Sei que não foi legal e que pisei na bola, mas não estava nos meus melhores dias e ela se atirava o tempo todo pra cima de mim. Não consegui me conter.
A forma como ele descreve tudo me faz imaginar e a raiva vai me possuindo.
- Ela gosta mesmo de você Abel, é por isso que estava se atirando! - Começo a gesticular com as mão.
- Mas eu gosto de outra garota...
Não espero ele terminar a frase, bufo e o encaro.
- Essa é a coisa mais baixa que alguém pode fazer. Não se controlar, usar a bebida como desculpa e brinca com os sentimentos dos outros! Depois joga a velha desculpa do "outra garota". Eu realmente tenho pena dessa outra garota! Não sabe quem é você de verdade! - Quando me dou conta estou gritando. Abel me cabisbaixo, como se eu tivesse o ferido.
- Bia, eu sei que foi errado...
- Não Abel, você não sabe! E eu realmente gostaria de ir sozinha para a biblioteca. - Paro de repente no meio do caminho. Abel me olha por um tempo depois balança a cabeça, volto a andar em direção a universidade e o deixo parado no meio da calçada. Quando olho para trás, vejo que Abel está me encarando. Ando mais rápido.
Oie Maria =)
ResponderExcluirTive que ler os textos anteriores para entender a história.
Parabéns você escreve muito bem!
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Hey Ane! Valeu, saiba que você é a primeira a comentar, o que me deixa super feliz!!
ExcluirFico contente que tenha gostado, os textos estão meio sem graça ainda, mas vou tentar melhorar!! ;)