segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tudo Começou Em Chicago: Cap 6 ( parte 1 ) - Estrelas Pelo Caminho

Ficamos na sala sentados no chão jogando baralho. Sempre que tem a oportunidade, Laura vai a cozinha providencia lanches. Abel não deixa de sorrir toda vez que cruzamos os olhares, o que me deixa bem nervosa, mesmo sem saber o por quê. Não é como se eu estivesse apaixonada por ele, sabe? Afinal, o conheço a pouco tempo, pouco tempo mesmo. E sinceramente, já estou com muita coisa para pensar, não tô afim de me envolver em uma paixonite qualquer.
Depois de mais algum tempo, L adormece no sofá. Pego o celular para ver a hora. 
-Nossa, já é bem tarde... duas da manhã.
-Ok ok, entendi, essa foi a minha deixa. - Abel se levanta, e estica os braços se alongando. Fico olhando para ele, em como seu cabelo cai sobre a testa, e como seus olhos brilham, é o tom de azul mais brilhoso que já vi. Balanço a cabeça. 
-Acho melhor você ficar... - Abel para de repente, e levanta um sobrancelha. - O que foi? Se prefere andar pelas ruas de madrugada, correndo o risco de ser assaltado, tudo bem. Não sabia que era tão audacioso. - Digo ao revirar os olhos. 
-Não é isso... só que foi pego de surpresa. - Abel me lança um sorriso contido, mas logo depois fica sério. - Ei Kate... por que não gosta de mim? Digo, por que sempre me trata friamente? - Pergunta olhando para o chão. Faço uma cara de surpresa, não esperava essa pergunta, na verdade nunca pensei nisso. Por que sempre o trato assim? Por que sou fria? Sempre fui assim eu acho. 
-Não sei... nunca tinha percebido que te tratava mal. Acho que sou assim... às vezes as palavras saem da minha boca. E desde o dia que você beijou a Laura e depois ficou evitando vê-lá, sei lá, acho que fiquei irritada com a sua atitude. -Paro um pouco para pensar em tudo que aconteceu, e sinceramente não tenho nada contra ele. - Mas não faz diferença agora, L te perdoou, então não tenho mais motivos para ficar irritada. - Falo encarando-o. 
-Hum... e você me perdoou? -Ele coloca as mãos no bolso da calça. 
-Não cabe a mim perdoar. 
-Mas é importante para mim. - Abel está mais sério que o normal, e isso vai me deixando mais nervosa.  
-Kate... - Ele senta ao lado no chão, seu rosto está tão perto do meu que posso sentir seu calor. - Eu gosto mesmo de você, e sei que nos conhecemos há pouco tempo e que tudo isso que estou falando possa parecer ridículo. Sei que só faço merda e que só cheiro à café, mas juro que de todos os erros que já cometi, o maior foi não ter beijado logo, desde o início... e mais uma coisa, eu não consigo parar de pensar em você.
   Fico parada olhando seus olhos que me queimam por dentro, parecem nervosos, ansiosos e suplicam. Mas pelo o que?
Engulo em seco, minha garganta parece está se fechando. -Abel -Minha respiração fica mais acelerada.
Abel coloca uma mão no meu rosto e a sensação é tão boa que fecho os olhos.
-Vou te beijar.
-Então me beije. -Respondo mantendo os olhos fechados, logo em seguida meus lábios são envolvidos pela sua boca, que me beija intensamente e eu só consigo pensar na mistura de café e na imensidão de sentimentos que há em seu beijo. Penso em mais uma coisa: Eu o quero.

   Perco a noção do tempo em que ficamos ali, nos beijando. Abel agora enterra seus dedos no meu cabelo e eu seguro a borda de sua camiseta.
-Kate... - Abel morde meu lábio inferior, e sua respiração fica mais forte. -... devo parar?
-Não. - Digo.
 Puxo sua camiseta para cima na tentativa de despi-ló, então escuto Laura se mexer no sofá e congelo. Nós dois paramos e ficamos olhando um para o outro com nossas respirações alteradas, L só se mexe mais uma vez e logo escutamos seu ronco. Abel sorrir e depois deposita um beijo no meu nariz.
- Acho que devemos dormi. - Falo baixinho.
- É, acho que sim.
Ficamos olhando um para o outro e começo a rir.
- O que foi?
- Não sei. Isso aqui que aconteceu entre a gente... - Respondo gesticulando com os braços.
-"Isso aqui" se chama pegação, rolo, namoro. Tudo menos "isso aqui". - Responde e beija meu nariz mais uma vez. - Ai meu deus! Como eu amo esse nariz!
Caímos na gargalhada. Sinto minha barriga doer e aquele velho nervosismo me atinge. Paramos de rir, e volto meu olhar para o chão.
-Vamos devagar ok? - Minha voz sai baixa, mas forte o suficiente.
Abel me encara por mais alguns segundos e sorrir.
- Ok. Acho que posso conviver com isso. 
Sorrio para ele e me coloco de pé. - Vamos arrumar algum canto para você dormir.
                                           
                                                                          ***

   Depois daquela noite, os dias passam rápidos. Tenho evitado falar com Abel, simplesmente porque namorar, a ideia de namorar me assusta, ter sempre alguém por perto. Acho que não sirvo para isso. E tenho quase certeza que isso vai dar merda.
   Estou na sala de aula quando sinto meu celular vibrar em meu bolso. Coloco a mão no bolso e vejo uma mensagem do Abel. Fico nervosa, estávamos sem nos ver a uma semana. Limpo minha garganta e leio: "POSSO TE VER HOJE?"
Logo em seguida chega outra mensagem: "PIZZA?"
E depois outra: "POR FAVOR..."
Ele parece sentir mesmo minha falta, não posso negar que também senti falta dele. Resolvo responder: "AS SETE. NO MEU APÊ. QUATRO QUEIJOS." Será que fui fria demais? Não importa, estou feliz que irei vê-lo.

                                                                            ***

 
   Olho o relógio, Abel logo chegará. Corro para tomar um banho, coloco uma calça de moletom e uma camiseta branca, deixo meu cabelo cair na frente pelo ombro e aperto minhas bochechas na tentativa de deixa-las mais rosadas. Em seguida começo a arrumar o quarto, que está uma bagunça fora de controle. Então escuto a campainha, Abel.
   Minha respiração fica mais acelerada e tenho a sensação de que vou explodir. Ando até a porta contando todos meus passos, aperto minhas bochechas mais uma vez com tanta força que tenho certeza que em vez de rosadas, ficaram roxas.
Quando abro a porta Abel esbanja um sorriso lindo e seus olhos brilham mais que qualquer outro dia, seu cabelo molhado cai divinamente por sua testa. É de tirar o folego. Ele carrega a pizza bem a sua frente.
- Boa noite. - Me cumprimenta contido.
- Boa noite...
- Posso entrar? - Fico tão encantada com o olhar dele quem nem percebo que estamos parados na porta.
- C-claro. - Dou uma risada nervosa e pisco várias vezes. Ai meu deus! Isso é um desastre. Eu sou um desastre. - Me desculpe.
Abel rir, o que me faz sentir mais nervosa.
- Kate, você é uma graça quando está nervosa. -  Abel estende seu braço e  segura meu queixo com as pontas dos dedos, depositando um beijo casto no meu lábio. Fico paralisada. - Boa noite, Kate.
Seu olhar é tão sedutor e ao mesmo tempo intenso, que começo a sentir todo o ar em minha volta pesado.
- Abel...
- Então, o que vamos fazer? - Abel se joga no sofá colocando os braços atrás da cabeça.
- Eu não sei. - Me mantenho em pé.
- Nossa Kate! Use a criatividade.
- Eu realmente não tenho a menor ideia do que podemos fazer. - Respondo dando de ombros.
- Tudo bem.. - Percebo um sorriso malicioso em seu rosto. - eu sei o que quero fazer, a questão é: você aceitaria?
Fico encarando seu rosto por um tempo, tenho um pouco de medo da minha resposta.
- Provavelmente.
Abel alarga mais o sorriso que está plantado em seu rosto. - Sente ao meu lado. Não fique distante.
 Ando  em direção a ele. Abel abre um espaço no sofá e sento entre suas pernas.
- Me fale, do que você gosta de fazer?
- Como assim? - Não entendo direito sua pergunta, então fico encarando-o.
- O que você faz para passar o tempo? Para se divertir? - Ele parece extremamente alegre, e ávido por informações.
- Hum... - Paro para pensar um pouco. O que eu faço para me divertir? Ora, eu escrevo. - ... escrever.
- Mas disso eu já sei. Quero saber alguma coisa nova, alguma coisa sobre você que eu ainda não saiba. - Paro para pensar mais uma vez, mas não tenho nada em mente.
- Nada. Não sou uma pessoa que tenha uma vida interessante. Na verdade, a minha vida é bem careta. - Certo... - Abel coça o queixo e permanece me encarando. - Então acho que vou te beijar. Assim podemos aproveitar melhor o tempo.
Prendo minha respiração por um segundo, mas a medida que a mão dele vai tocando meu rosto, sinto tudo em mim relaxar, toda a tensão se foi e meus lábios encontram os dele novamente.
   Abel está com as mãos no meu cabelo, e eu seguro forte sua nuca. Nós dois estamos quentes e cada vez mais sem fôlego. De repente ele para, me deixando meio perdida.
- Kate... - Diz encostando sua testa na minha. - Toque alguma música no violão para mim...
Meu peito sobre e desce, não entendo direito o motivo do seu pedido, é então que me dou conta de que nunca o disse que tocava.
- Como você sabe disso? - Levanto uma sobrancelha.
- O que?
- Sobre eu tocar. Como sabe que eu toco? - Fico encarando-o meio desconfiada.
Abel solta um suspiro e olha para nossos dedos entrelaçados: - A Laura comentou.
Claro, a Laura. Já tinha me esquecido que eles dois se beijaram e que depois o Abel deu um de babaca sem querer falar com ela.
- Ah... - É a única coisa que digo, por que a lembrança deles juntos me dá um nó no estômago.
- Ei. - Abel prende meu rosto com suas duas mãos, colocando uma de cada lado e me forçando a olhar para ele. - Aquilo foi um erro. Esqueça o que eu fiz, eu só costumo fazer merda e aquilo não foi diferente.
- A Laura é apaixonada por você... - Respondo baixinho porque nem eu quero escutar minhas palavras.
- Não. Ela só tem uma quedinha por mim, mas quando encontrar o cara certo, ela me esquece. - Abel me encara por um tempo como se tentasse enxergar através dos meus olhos. - Kate... eu sei que o que vou dizer agora é muito clichê, mas... - Ele me olha mais uma vez e sorrir. - ... é por você que meu coração bate mais forte, e quando seu perto de você tudo muda, é como caminhar entre as nuvens. E isso me assusta, porque é muito forte.
Meu peito se enche de ar e tenho certeza que meu rosto está todo vermelho. Em um movimento rápido salto para cima dele, que leva um susto e me agarra, e começo a beija-ló por toda parte. Beijo sua testa, seu nariz, seus olhos e sua boca. Escuto sua risada se divertindo, então ele me para segurando meu ombro e me olha achando graça.
- Toque para mim.
Dou lhe mais um beijo do nariz e me levanto: - Tudo bem. Fique aqui enquanto pego meu violão.
- Pode deixar. - Abel pisca um olho.
Corro até meu quarto e pego meu violão, quando volto para a sala Abel está sentado no chão.
- Não consigo me acostumar com essa sala sem televisão.
- Depois de um tempo, você se acostuma. - Sento no chão ao lado dele, posiciono o violão para que fique confortável. - Algum pedido senhor?
- Me impressione. - Abel deposita um beijo em minha boca.
Dou uma risadinha e depois paro para pensar em alguma música. Então tenho uma ideia.
Limpo a garganta e toco as primeiras notas:
                     
"Eu descobri que talvez eu estivesse errada. Que eu caí e, não posso fazer isso sozinha. Fique comigo, isto é o que eu preciso, por favor. 
Cante-nos uma música, e a cantaremos de volta pra você. Nós poderíamos cantar sozinhos, mas o que isto seria sem você? 
Eu nem sou nada agora e faz muito tempo desde que eu escutei o som, o som da minha única esperança. Desta vez eu estarei escutando. 
Este coração, bate, bate apenas por você... Meu coração é seu! 
Meu coração é seu... seu. Eu descobri que talvez eu estivesse errada."

Abel está batendo palmas, o que me faz rir. Por alguns minutos, pude esquecer tudo relacionado ao Paul, todos os problemas que vem junto com ele, as lembranças. Pensar nisso, me faz gostar ainda mais do Abel, de como em pouco tempo presente em minha vida, conseguiu mudar tanto.
- Você foi fantástica! Quando Laura me disse que você tocava não imaginei que fosse como uma profissional! - Os olhos dele brilham, me fazendo ficar vermelha.
- Profissional?! - Fico rindo da cara dele ao pronunciar "profissional" - Não sou profissional, só tocava de vez em quando... - E é ai que decido não contar sobre meu pai, ou sobre todo o resto que o envolve.
- Então você é um prodígio, e deveria investir mais nessa parte. Sabe, eu tenho um irmão que toca guitarra muito bem, tão bem que com certeza seria aceito por qualquer banda.
- Ah é? - Levanto uma sobrancelha e sorriu maliciosamente.
- É. - Abel se arrasta até estar bem perto de mim, e beija meu nariz. - Mas ai ele decidiu que a família dele não servia e saiu de casa.
- E pra onde ele foi?
- Não sei... - Responde dando de ombros. Percebo seu rosto ficando sério, e fica claro que esse assunto é realmente importante.
- Ei. - Seguro seu queixo, Abel olha para mim. - Tudo bem?
Ele balança a cabela concordando, depois sorrir.
- Acho melhor a gente se beijar logo e deixar de ladainha. - Abel sorrir.
Dou uma risadinha e me sinto vermelha.
- Também acho. 

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